quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

ESPUMAS I



«Anda cá, não fujas, sempre tiveste a mania de fugir. E logo tu, que nunca fugiste! És como és, serás como quiseres ser, mas não me convences que és pessoa de fuga. Só as pessoas livres podem fugir. E a liberdade, a tua liberdade, onde a deixaste? Estás onde estás porque não a quiseste, jamais me digas o contrário. E eu sei muito bem aonde culminarás, ao cume da tua prisão, uma prisão feita de amarras invisíveis, sem cor ou pudor. Só de pensar que a maioria das pessoas deseja ter amarras invisíveis dá-me arrepios. E não é bem na espinha, são arrepios de alma. Não sei bem o que isso é, mas agora que falo disso, soa-me bem. Como podes aspirar a um lugar de alma e liberdade, sim, logo tu, de quem tantas amarras deste aos outros a conhecer. Não me vires as costas, os anjos já têm costas, senão aonde colocavam as asas?»

Miguel Pessoa Campomaior

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