Logo depois da minha licenciatura em Direito com nota que me encorajava a prosseguir, formulei o projecto de requerer uma bolsa de estudo em Direito numa universidade italiana. Apresentei o projecto no Instituto de Altos Estudos, dei como testemunhas e abonadores os meus professores de Direito, entre eles o professor Paulo Cunha. A minha pretensão foi deferida e foi-me atribuída uma bolsa. Eu iria com a minha mulher para Itália, passaria lá alguns anos a estudar Direito e depois faria o doutoramento na faculdade. Eram estes os projectos no início da minha vida.
Como já disse, tinha relações muito afectuosas com o pai da minha mulher, professor Rodrigo de Sá Nogueira, que passava parte dos seus tempos livres no café A Brasileira do Chiado. Eu saía de casa para ir para o escritório na Rua do Ouro, entrava n´A Brasileira para o ver, tomava um café com ele e seguia o meu caminho. Um dia ele estava acompanhado de um sujeito grave, alto, cor de azeitona de Elvas, A conversa correu imediatamente para o lado da política. Disse, sem reservas, que uma evolução política era inevitável. Estava-se em 1946 ou 1947, e essa era a opinião de muita gente . Depois desta conversa a pessoa que falava com o meu sogro disse-me: “Mas então, se eu bem o compreendo, o senhor é da oposição”.
Eu respondi-lhe com a maior sinceridade e pureza: “ Não sou da oposição e eu até sou um admirador do dr. Salazar e do que ele tem feito por este país. Mas não sou estúpido. As condições políticas mudaram e portanto o comportamento político também deve mudar.” Ele comentou sombriamente: “Tomo nota…tomo nota”.
No dia seguinte fui prevenido de que o Ministério da Educação tinha reprovado e não autorizado a minha ida para Itália por me considerar desafecto ao regime. A pessoa que conversava com o meu sogro n´A Brasileira era o dr. J.M. secretário do ministro da Educação. Ele foi d´A Brasileira a correr para o ministério e disse ao ministro o perigo iminente que passava de deixar ir para Itália um adversário do regime como ele imaginava que eu era. O regime tinha assim aos eu serviço pessoas desta curteza de vistas. Por causa desse mau encontro não fui para Itália e não realizei o projecto de doutoramento.”
Como já disse, tinha relações muito afectuosas com o pai da minha mulher, professor Rodrigo de Sá Nogueira, que passava parte dos seus tempos livres no café A Brasileira do Chiado. Eu saía de casa para ir para o escritório na Rua do Ouro, entrava n´A Brasileira para o ver, tomava um café com ele e seguia o meu caminho. Um dia ele estava acompanhado de um sujeito grave, alto, cor de azeitona de Elvas, A conversa correu imediatamente para o lado da política. Disse, sem reservas, que uma evolução política era inevitável. Estava-se em 1946 ou 1947, e essa era a opinião de muita gente . Depois desta conversa a pessoa que falava com o meu sogro disse-me: “Mas então, se eu bem o compreendo, o senhor é da oposição”.
Eu respondi-lhe com a maior sinceridade e pureza: “ Não sou da oposição e eu até sou um admirador do dr. Salazar e do que ele tem feito por este país. Mas não sou estúpido. As condições políticas mudaram e portanto o comportamento político também deve mudar.” Ele comentou sombriamente: “Tomo nota…tomo nota”.
No dia seguinte fui prevenido de que o Ministério da Educação tinha reprovado e não autorizado a minha ida para Itália por me considerar desafecto ao regime. A pessoa que conversava com o meu sogro n´A Brasileira era o dr. J.M. secretário do ministro da Educação. Ele foi d´A Brasileira a correr para o ministério e disse ao ministro o perigo iminente que passava de deixar ir para Itália um adversário do regime como ele imaginava que eu era. O regime tinha assim aos eu serviço pessoas desta curteza de vistas. Por causa desse mau encontro não fui para Itália e não realizei o projecto de doutoramento.”
José Hermano Saraiva, in "Sol", mas sacado daqui
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