quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Polícias e ladrões

Continuo a ver nos polícias os “bons” e nos ladrões os “maus”. Por isso acho chocante que polícias, envergando as suas fardas, se prestem a agredir pessoas que não estão a praticar qualquer crime. Por isso acho chocante que polícias, envergando as suas fardas, formem uma espécie de guarda pretoriana de protecção a algumas claques de futebol e a bandos de seguranças privados.
Por outro lado, acho ridículo que qualquer excesso policial seja imediatamente rotulado de “crime” e que qualquer roubo, agressão, destruição de património, violação ou homicídio realizado por um tipo que more num bairro difícil seja somente a consequência do seu desenraizamento social.
Por isso concordo com Ferreira Fernandes (Diário de Notícias) quando reprova a propaganda “cop-killer” da Cova da Moura (onde parece que se fazem visitas turísticas a “monumentos” a crimes de ódio!...), e com Helena Matos (Público) quando se insurge contra a desigualdade na reacção ao crime, consoante o mesmo seja contra um banco ou contra uma pessoa:

«Igualmente perturbante, pelo menos para mim, é também o alarme social gerado pelos assaltos aos bancos, sobretudo quando se compara esse alarme com o resignado fatalismo que se exige aos não banqueiros, ou seja, a maioria de nós, caso sejamos assaltados ou agredidos. Os portugueses não têm apenas uma justiça cara e ineficaz. Vivem rodeados duma concepção elitista da segurança e do crime: quando se assalta um banco é inequívoco que se tratou de um roubo. Quando o assaltado ou agredido é um qualquer cidadão a quem roubaram o dinheiro que acabou de levantar no multibanco entra--se no domínio do problema social. E é suposto que a vítima seja a primeira a desistir de falar em justiça e a perceber que teve azar.»

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