quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Estratégias e sociologias políticas

Quer se concorde ou discorde da assaz inteligência política de Sócrates, no plano da análise estratégica política há uma destacável conclusão sobre o seu comportamento na matéria referendária do aborto: sempre acossou, e acossa, os seus adversários políticos e não políticos. E por duas vezes.

A primeira ocorre em 2006 a propósito da renovação da proposta de referendo, conseguindo uma 2.ª sessão legislativa quando deveria ter sido mera continuação da 1.ª., para fugir à proibição constitucional de renovação - na mesma sessão legislativa - de propostas e projectos de lei chumbados ou, posteriormente em decreto, não promulgados.

A segunda, acontece recentemente com a sobredita posição de Sócrates (politicamente intimidatória) de fazer deste referendo o último dos anos vindouros e, agravadamente, de não haver qualquer iniciativa legislativa do PS nem aprovação por parte deste de algum projecto de lei das outras forças políticas parlamentares. Ou seja, o próximo referendo de dia 11 é uma questão de Tudo (ou Mudança) ou Nada (Manutenção) do actual estado de coisas. Tal determinação desfavorece a abstenção do SIM (porque sabem o custo de não irem às urnas, como aconteceu no último acto referendário), como promove a ida às urnas dos NIM que, para um lado ou para o outro, sabem o que acontece após o referendo, independentemente do resultado. E desses NIM, parece-me que o SIM ganha ao NÃO, porque só o futuro do SIM, em concreto, é incerto, enquanto o NÃO, já se sabe, vai ficar tudo como no presente. Acresce que estou convencido que "90%" da população está contra a despenalização (o que é diferente de descriminalização). E é aqui que está a astúcia da questão. Veremos se convencerá os eleitores.

Portanto, tudo resumido, mesmo que o SIM perca o referendo, não se pode apontar a Sócrates tal resultado (ao contrário daquilo que previsivelmente o Marques Mendes fará caso vença o NÃO), sobretudo no plano da estratégia política, antes ao facto de a população portuguesa ser ainda maioritariamente, e nesta matéria, conservadora nos costumes, fundamentalista no valor do nascituro, machista na concepção de liberdade e responsabilidade da mulher e criminógena no ambiente social.

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