Alguns portugueses de boa vontade acreditaram que a República era a solução para os males da nação. Ao ver o regime monárquico dos Braganças dar cobertura a ditaduras sucessivas, preconizavam a República como meio de obter uma certa conquista: a igualdade de oportunidades.
Foi assim que, nos primeiros anos da República, Portugal viu serem reconhecidos direitos civis a quem não os tinha, foi assim que o Estado Português se libertou da Igreja, foi assim que o nascimento não mais significou a obtenção de privilégios hereditários.
Porém a República falhou em Portugal.
Não por ser a República, mas por ser em Portugal.
É como os fundos comunitários, que resultaram em Espanha e falharam em Portugal.
Portugal foi vítima durante séculos de uma contínua limpeza do seu carácter empreendedor e progressista. Primeiro D. Manuel I e depois D. João III. Mais tarde D. Maria I. Já no Século XX, Salazar.
Portugal transformou-se num asilo de pobres de espírito, já que os empreendedores - vendo a masmorra intelectual que os envolvia - rapidamente zarparam para outras paragens, enriquecendo outros países e contribuindo para a criação de novas nações, como os Estados Unidos da América.
Ficaram cá os descendentes - não dos navegadores - mas daqueles que tinham medo de sair de casa. Daqueles que urravam padres-nossos ao mesmo tempo que queimavam bruxas, judeus, livre-pensadores, cientistas, hereges, empresários, etc. etc. .
Ficaram cá os descendentes dos invejosos, dos mesquinhos, dos avarentos, dos corruptos, dos que compravam bulas para comer carne durante a Quaresma e dos que as vendiam.
De entre estes todos, nasceram dois grupos. O escol, constituído pelas nobrezas - hereditária e adquirente - e o resto, os excluídos, exilados por uma força centrífuga para o mundo do analfabetismo, da miséria e da indigência.
Foi contra tudo isto que a República nasceu. Pela igualdade de oportunidades, pela liberdade de pensamento, pela solidariedade entre os que têm para com os que nada têm.
Nasceu manchada de sangue, é verdade. Esse é o preço do voluntarismo: há sempre gente pronta a assumir-se como a justiça.
Mas deu-nos mais do que aquilo a que nos habituámos a ler nos livros de História escritos por aqueles que aprenderam História com os inimigos da República: a gente do escol, perpretadora da instabilidade subterrânea que minou a liberdade pós-1910, a gente de Salazar.
A República deu-nos a centelha que arde em nós: a vontade de nos superarmos, o arrojo de lutar pela igualdade de oportunidades, o sonho de tornar Portugal o país dos portugueses e assim sermos vitoriosos onde 1910 falhou.
Por isso não posso deixar de dizer hoje:
abaixo o Reino de Portugal, abaixo a República Portuguesa,
Viva a República dos Portugueses!
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