sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Da relatividade

Anda por ai meio mundo, muito intrigado, com o facto de as ruas se encherem de gente que está contra as politicas governativas, enquanto as sondagens continuam a dar maiorias absolutas ao PS caso houvessem eleições por estes dias.
Mas tudo é relativo.
Serão cem mil pessoas muita gente? E, cem mil pessoas a chamar mentiroso a um primeiro-ministro rabino, insolente, mal formado e mal criado? Será relevante?
Eu acho que cem mil é pouco. A chamar mentiroso ao homem muito menos. Quase irrelevante. Porque eu, e por certo muitos como eu, também têm vontade de sair à rua “chamar nomes” a Sócrates.
E tenho tais ganas, porque há medida que os dias passam se vê com mais nitidez a lastima que é este governo.
Uma vez mais, como bem tem notado muito comentadores, estamos a perder uma soberana oportunidade para reforma a sério em vez de andar a brincar ao governo de países.
Se Sócrates tivesse lido Maquiavel saberia, por certo, que o bem faz-se aos bocadinhos, enquanto que mal deve ser feito todo de uma vez só.
E o que vemos nós? Sócrates a fazer precisamente o contrario!
Se o pânico já está instalado entre o funcionalismo, avance-se. Mas como pode correr que nem sequer ainda sabe gatinhar?
Como bem nota VPV no Publico de hoje (link) esta é a realidade:
As "reformas" que por aí se apregoam como exemplo de coragem política, além de impostas por Bruxelas, são "reformas" de superfície e, por natureza, reversíveis.
Nada o impede de sonhar e de trazer o MIT para Portugal. Acontece que a "modernidade" não se importa ou se fabrica pela vontade de um governo qualquer, como o dr. Cavaco com certeza não se esqueceu. Num país com 750.000 funcionários públicos, a verdadeira "revolução" não é "tecnológica" ou "científica", é a libertação da sociedade de um Estado que a sufoca e de que ela depende. Ora, nesta matéria, Sócrates não se atreveu até agora a tocar. E o adiamento, anunciado ontem, da "reforma" da administração central para o fim de 2007, a um ano de eleições, significa no fundo que, por convicção ou impotência, se resignou, ou prefere a velha mediocridade portuguesa.

De facto, este governo merece todo o mal que lhe façam. E merece por mérito próprio. Por ser inapto e incompetente. Serão cem mil pessoas muita gente?
Claro que não! A agitação social, o protesto de rua está definitivamente na moda.
Alias, se os funcionários não existissem, este Governo teria de os inventar, como bem nota Rui Ramos no seu texto de quarta-feira passada também nas páginas do Publico.
Para compreender melhor, porque é que cem mil pessoas não são assim tanta gente e a próxima maioria absoluta está asseguradíssima vale a pena ler com atenção o resto do escrito de Rui Ramos (link).

PSL

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