terça-feira, 17 de outubro de 2006

Campo Contra Campo (LXIV)

The Black Dahlia - A Dália Negra, ****

Ver o complexo mas fascinante filme de Brian De Palma é um exercício divertido a vários níveis.
Desde logo, a bem da honestidade intelectual, devo dizer que tal como a maioria dos espectadores tive vários problemas em entender a estrutura complexa da narrativa. Só após alguns minutos de amena cavaqueira, com alguém especialista em puzzles difíceis, compreendi alguns subtis pormenores que fazem toda a diferença.
São duas as questões que me interessam quanto a esta película. Por um lado, o eterno problema do papel da crítica cinematográfica. Por outro, procurar indagar porque é que The Black Dahlia não é uma obra-prima.
Quem lê, ouve, vê os críticos, não pode deixar de ficar contaminado pelas suas analises nem sempre objectivas. O crítico é um crítico, mas também é uma pessoa humana. Com defeitos e feitios. Com qualidades, com lacunas.
Os críticos dividem-se quanto à qualidade deste filme. Não podem!
Os críticos podem gostar mais ou menos do que viram com base no seu gosto pessoal, mas não podem mentir, omitir, sonegar, errar nos aspectos objectivos da crítica. Ou então…, não foram sujeitos ao diálogo com o objecto que criticam.
Por exemplo: há um rapaz, que muito bem se apresenta nas noites de quarta-feira na RTPN, e se diz critico de cinema. Penso que se chama Tiago Alves. Este jovem de verbe cara e gravatas italianas, disse para quem o queria ouvir, que miss Scarlett Johansson (digo já - para não começarem a pensar coisas… - que neste filme apresenta um paupérrimo trabalho) não representa um papel principal, mas sim secundário.
Três hipóteses: Alves não viu o filme. Alves nada percebe de cinema. Alves nada percebeu de A Dália Negra. Inclino-me para algo entre a segunda e terceira hipóteses.
De facto Kay Lake, a personagem encarnada por Scarlett Johansson, é centro de gravidade, eixo principal, de todo o argumento (não posso falar de um livro que não li…). De tal forma que no final, a morte de Elizabeth Short, parece ter sido a encenação de um pequeno pormenor no meio do fabuloso destino que sorri à menina Lake. Ela manipula. E fica com a casa, o dinheiro, com o homem, e, sobretudo, fica viva. Kay Lake é a chave de The Black Dahlia.

Isto conduz-nos directamente à segunda questão: Porque é que The Black Dahlia não é uma obra-prima?
Esteticamente rigoroso. Cinematografia clássica mas desempoeirada. De uma riqueza absurda nos pormenores. Planos inesquecíveis.
Mas…, Josh Hartnett (ridículo), Aaron Eckhart (fracote), e essencialmente Scarlett Johansson não têm estofo nem andamento para o rigor de De Palma. Ficam muito longe de um mínimo indispensável para entrar no Olimpo. Ao invés de Mia Kirshner e de Hilary Swank. Sobretudo esta, no papel da estranha Madeleine Linscott. De um rigor absoluto, só ultrapassado pela esquizofrenia desenfreada da sua mãe (uma magistral Fiona Shaw).
Em suma: as más representações condenam o filme de De Palma a ser apenas excelente.

PSL

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