domingo, 7 de janeiro de 2007

Tributos

O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos defende a continuação de Paulo Macedo à frente da Direcção-Geral dos Impostos e afirma que a remuneração mensal do director, vinte e tal mil euros brutos, se justifica pelos resultados que tem demonstrado.
A posição deste sindicato, neste contexto, é inédita e, julgo, algo insólita. Todavia, parece-me que, pelo modo como os meios de comunicação social difundiram a notícia, e a forma e conteúdo como foram apresentadas, algo está a escapar na compreensão do alcance da verdadeira importância e do profundo significado das mesmas - ou então, confesso desde já, o erro é meu.
Não deixa de ser inédita, por um lado, porque não me lembro de um sindicato vir publicamente em socorro de um alto dirigente da função pública, que não é funcionário público, para defesa da continuação do exercício do cargo que ocupa.
É ainda insólita, porque tal posição sindical implica uma aceitação de uma remuneração mensal bastante desigual, e mesmo assim soa-me a eufemismo, face a outros dirigentes (e/ou trabalhadores) e numa entidade pública (DGI). Não querendo entrar na análise da ‘desideologização’ dos sindicatos ou na ‘desvalorização’ do factor capital como objectivo de luta sindical, as ditosas justiça social, igualdade (de tratamento, de condições e aquela fundada no princípio da diferença com tratamento privilegiado às categorias mais desfavorecidas) e solidariedade têm de ser revistas do dicionário sindical. Mérito, eficiência e liderança são conceitos em trasladação.
(não sei a qual das confederações este sindicato pertence, mas estou curioso e expectante em saber qual será, se é que será, a reacção delas face a este ‘aggiornamento’ capitalista)
Mas a bem ver, estou algo pessimista quanto a este 'novo' caminho - talvez seja dos demasiados relatórios do Tribunal de Contas que ando a ler. Apesar de tudo, em vez duma 'modernização' das entidades sectárias de defesa laboral, ou mesmo um sinal dos tempos, creio não estar enganado se disser que esta posição do sindicato dos trabalhadores dos impostos não é mais do que (mais) uma versão do princípio NIMBY na sociedade portuguesa (ou deverei escrever humana?). Como disse George Bernard Shaw “Nothing makes a man so selfish as work”.

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