Já escrevi neste blogue sobre Mário Soares (2/8, 5/8, 31/8, 26/10, 2/11 e 17/11 de 2005) e considero o seu percurso de combatente pela liberdade e contra o fascismo verdadeiramente admirável. No entanto, o tempo não perdoa a nenhum ser humano. Para quem se recorda da campanha presidencial que realizou, quem leu a entrevista que deu no dia 31 de Agosto ao DN e quem o ouviu ontem no programa Prós e Contras, não deixa de poder reconhecer que o argumentarium de Mário Soares é cada vez mais 'irracional' e 'superficial'. Mários Soares, com as suas declarações, não tem elevado o discurso e a convivência políticos, por vezes bem pelo contrário, sacrifica a liberdade e a racionalidade à paternalização e ingenuidade políticas.
Outro ponto a sublinhar, a propóstio dam sua intervenção de ontem na RTP1, respeita à cada vez maior dificuldade em se discutir, sobretudo em Portugal. As várias tentativas feitas por JPP para trazer Mários Soares a um campo de debate minimamente racional e seriamente fundamentado quase que metiam dó, ao mesmo tempo que admirava a postura sisifiana naquele debate, onde a rocha era a razão e o monte a. Quer-se concorde ou discorde das suas posições, JPP procurou fundamentar as suas ideias, ou seja, deu um exemplo de como discutir, sobretudo em minoria.
Quem conhece o meio académico, o 'ambiente' de discussão em aula, o modo e conteúdo do 'discurso' e 'diálogo' discentes, e se preocupa com eles e tenta melhorá-los compreende bem a hercúlea força que é necessária (muitas vezes ineficaz) para que as frases se tornem em argumentos, as palavras em conceitos, os bitaites em ideias e as opiniões em fundamentações. Bem sei que a luta (de quem se preocupa) consiste mais em pôr sementes do que apreciar os frutos e ver os alunos transformados em exemplos com potencial de um bom nível de argumentação. Mas não deixa de ser sintomático o estado em que o país universitário se encontra nesta matéria. E ontem, Mário Soares, não contribuiu nada para a utilização, numa discussão, de uma argumentação racional (v.g., a obssessão anti-americana), objectiva (v.g., sofismas de composição e de emprirismo pessoalizado: 'estive lá...há...anos[!]..', 'falei com o...', 'conheço bem a...', 'toda a gente diz...', 'eles escavacam tudo...') e intelectualmente honesta (v.g., teorias conspirativas). Como devem ser os princípios de um entendimento humano.
NCR
1 comentário:
Vi apenas um pouco do debate.
A ideia que me assaltou imediatamente foi: o que é que JPP está ali a fazer?
Como e porque é que um intelectual honesto, concordemos ou não com as suas posições e argumentos, se deixa levar para uma conversa com um “morto”, que de quando em quando ressuscita, lá do caixote do lixo da historia para onde foi enterrado há muito tempo?
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