segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Campo Contra Campo (LIX)

Blue Velvet - Veludo Azul, ***

É um mundo estranho.
Como já devem ter reparado neste blogue ama-se a “sétima”. Considero-me um cinéfilo. Mas tenho lacunas inacreditáveis. E nem sequer falo em coisas muito “cientificas”. Simplesmente existem filmes “de culto” que nunca vi, ou não me lembro de ter visto ou (shame on me!) nem sequer ouvi falar. É um mundo estranho…

Vem isto a propósito de Blue Velvet (Veludo Azul) realizado por David Lynch nos idos de 1986. Foi há vinte anos, mas podia ter sido ontem. Certo é que eu nunca tinha visto o filme, embora já tivesse lido muito sobre o mesmo,
Porque transmitido na RTP1, algures em Agosto, lá estava, guardado, na fita da velhinha cassete VHS, à espera (como tantos, tantos, outros) do dia ideal (seja lá o que isso for) par ser visto. Até sexta passada!
Confesso, e não me custa nada faze-lo atendendo ao filme em questão, que “a coisa” ainda não me saiu da cabeça. E, reconheçamos, já lá vão uns bons pares de horas.
E quanto mais horas passam parece que mais luz trespassa por aquilo que foi visto. Ou não!

Complexo, fascinante, perturbador, escatológico, desmedido, agressivo, gratuito, violento. Perturbador, perturbador, perturbador. Não sei se me faço entender…
Ainda assim muito longe da obra-prima que alguns dizem ser.
Genial Dennis Hopper, arreliante Laura Dern, banal Kyle MacLachlan. Gigante Isabella Rossellini. Consta que esta terá dito no final do filme: “Uma pessoa normal não pode viver com Lynch”. Acho que compreendo.

Há um pormenor delicioso, que Lynch copia deliberadamente dos film noir dos anos cinquenta, e resume toda a obra. Frequentemente as personagens entram em cena, iluminando-se, vindas do escuro. Mas um escuro que se nota não estar longe, mas sim muito perto. E depois vão, tal como vieram. É nesta dialéctica verdadeiramente polar que se joga Veludo Azul. E é mesmo.
"É um mundo estranho!" E é mesmo.

PSL

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