Devorei com sofreguidão o mais recente romance histórico de Domingos Amaral, que me provocou vários sentimentos contraditórios.
É um livro muito fácil de ler, por vezes fácil de mais. Mas quem disse que tudo o que lemos tem se ser denso e enjoativo?
Não sendo uma obra prima de um género, que de algum tempo para cá se tem imposto solidamente no panorama literário português é, no entanto, uma leitura agradável, desempoeirada e acessível que de forma algo espartana nos dá uma ideia do que pode ter sido a época da segunda Guerra Mundial na capital do Império Português.
O livro envolveu-me de forma soberba. Sempre fui muito curioso em relação ao passado do espaço onde vivo – a grande Lisboa. E é (também) esse espaço que se encontra explorado no livro. Pena é tal exploração não demonstrar a riqueza suficiente para nos empolgar. A escrita cinematográfica de Domingos Amaral sai prejudicadíssima por o pormenor ter sido sacrificado em prol de “mais uma corrida”, “mais uma viagem”, “mais uma paixão”, “mais uma dor”. Apenas um exemplo. Como amante da rica vida que é, frequentemente, Amaral, descreve cenas verdadeiramente epicuristas: jantares nos melhores hotéis da época, conversas e serões pautados por brandy e charutos, jantares íntimos onde se bebem bons vinhos, uma visita a uma lota onde o peixe jaz acabado de pescar. Porque é que Amaral não desenvolve e detalha abundantemente estas cenas? Que pena…
Ainda assim, a intriga é divertida, as mulheres são belas, o sexo é escaldante, o destino é o destino. Tudo enquanto Salazar dormia.
Gostei bastante e recomendo.
PSL
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