segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

O Lisboa Dakar na RTP

No dia um de Janeiro deste ano tropecei neste post (link) do blogue Jornalismo e Comunicação.

Achei alguma piada ao facto de alguém que estuda jornalismo (?) escrever que o jornalista da RTP João Fernando Ramos é “um dos jornalistas que mais sabe falar de automobilismo”.

Aproveitei para tecer alguns comentários (no blogue Lisboa Dakar – link) nada abonatórios em relação ao trabalho de João Fernando Ramos, que reproduzo infra:

“Com o devido respeito João Fernando Ramos nada sabe nem de automobilismo nem de desporto motorizado, sendo que um e outro são coisa diferente e o Dakar não é o primeiro mas sim o segundo porque engloba automóveis, motos e camiões..., logo não é automobilismo mas sim desporto motorizado.
Voltando à vaca fria João Fernando Ramos nada entende de nada e prova-o todos os dias na antena paga por nós todos. É amador.”

Apenas hoje reparei que tinha na minha caixa de correio electrónico, desde o passado dia dezanove, uma mensagem do jornalista da RTP que passo a reproduzir na íntegra (embora para tal não tenha tido o consentimento do seu autor)

“caro Pedro
lendo o seu comentario não resisti a responder, com todo o respeito.
é claro que nenhum de nos é dono da verdade ou de todo o conhecimento.
procuro aprender todos os dias para fazer sempre melhor o meu trabalho.
Não me fica bem falar do que sei ou não sei...mas cá vai...
nasci na Lousã, terra de Ralis que comecei a ver , a conhcecer e a
aplaudir desde que me lembro.
como jornalista cobri provas de Ralis e TT desde os mues 16 anos. tenho
agora 40.
conheco pessoalmente praticamente todos os pilotos que participam nos
nacionais de TT e Ralis, e alguns dos mais importantes da Taça do Mundo e
do Dakar.
sou assinante de cerca de uma duzia de revistas e jornais portugueses e
estrangeiros sobre a modalidade.
foi e sou piloto de ralis, participando no campeonato nacional de ralis e
já alinhei em varias provas de TT Karting, rali Cross etc.
Vou com muita regularidade ver e acompanhar grandes provas no estrangeiro
mantendo contacto muito proximo com pilotos, marcas e organizadores.
No ano passado estive no Dakar a realizar a reportagem para a RTP .
este ano estive na cobertura da RTP de todas as grande provas de TT em
Portugal.
Voltei ao Dakar com uma cobertura em directo das duas especiais em
Portugal em condições inéditas no Dakar e com reportagens diarias .
Com o devido respeito, na televisão paga por todos nos , dei de novo o meu
melhor , procurei ter toda a informação e estar ao lado dos principais
pilotos portugueses e estrageiros.
Pergunte ao Carlos Sousa, ao Pedro Gameiro, ao Paulo Marques, ao Bernardo
Vilar, ao José Megre ao Herder Rodrigues, ao Rodrigo Amaral ao Bruno Faria
etc...se me conhecem e o que é que eu sei ou não sei de Dakar.
Mesmo com todo o respeito, admito que não tenha gostado do meu
trabalho...mas dizer que não sei nada do assunto... não posso aceitar.

um abraço

joão fernando ramos”


Tudo isto me merece alguns comentários rápidos.

1. Em Portugal os jornalistas comentam e criticam o trabalho dos “outros”, nalguns sectores da vida social (politica e futebol) por vezes de forma bastante leviana, mas não estão habituados a verem o seu trabalho olhado de forma critica.

2. Com o advento da Sociedade da Comunicação, maxime com a explosão da blogosfera muito mudou. Esta constitui uma “via verde” para a escrita livre e critica, podendo esta ser a “arte da política da vida”.

3. Hoje lamento o facto de não ter justificado as afirmações que fiz sobre o trabalho de João Fernando Ramos. No fundo cai no erro tantas vezes apontado ao trabalho dos jornalistas. Afirmações despidas de conteúdo e justificação.

4. João Fernando Ramos, não gostou do que leu e deu-me a honra e o prazer de comentar as minhas afirmações. Obviamente que a minha frase assassina “ (...) João Fernando Ramos nada entende de nada e prova-o todos os dias na antena paga por nós todos. É amador.” (...) vale o que vale. Claro que João Fernando Ramos sabe ler e escrever, por isso terá conseguido encontrar um emprego na função pública.

5. E sinceramente..., como diz a sabedoria popular “pior a emenda que o soneto”. João Fernando Ramos depois de escrever “ (...) Não me fica bem falar do que sei ou não sei...mas cá vai... (...)” tenta justificar a qualidade seu trabalho com factos curiosos, como o ter nascido na Lousã, trabalhar no ramo desde os 16 anos, conhecer os pilotos, já ter alinhado em provas e ser assinante de revistas da especialidade.

6. Até admito que o trabalho de João Fernando Ramos seja o suficiente para satisfazer o espectador médio da televisão do Estado.

7. O melhor que João Fernando Ramos deu de si – e longe de mim questionar tal coisa – a mim não me satisfaz nem um pouco. O que mais critico no seu trabalho são os apontamentos de reportagem. Numa posição privilegiada de acompanhamento da prova, exige-se muito mais do que dizer, filmar e editar banalidades. Exige-se um trabalho radical no verdadeiro sentido da palavra. Mergulhar na raiz da prova, procurar a diferença na alegria e na tristeza da caravana. Procurar o sentido e valor de quem se mete ao caminho e tentar ilustrar e justificar a máxima do criador da prova, “uma aventura para quem parte, um sonho para quem fica”.

8. Uma última nota e tentando partir do particular para o geral.
Caro João, como amante do desporto motorizado que é sabe (deve saber bem melhor que eu!) que esse amante ficou mais satisfeito com o resumo do EusoSport que com o trabalho apresentado na RTP (na N, por cumulo, apresentado à mesma hora que no canal Europeu, e na 1 apresentado a desoras de clássico “serviço publico”) onde o seu se insere. Não pense que me sinto feliz por escrever isto. Bem pelo contrário, tenho pena..., muita tristeza mesmo.
Mas deixe lá João, há pior que o seu trabalho ai na casa onde trabalha. Como é que ai “na Cinco de Outubro” ainda dão trabalho a Paulo Solipa?

Pedro Soares Lourenço

Nota: A tréplica de João Fernando Ramos, enviada por mail, foi acrescentada aos comentários deste post.

3 comentários:

@rmando disse...

Viva!
Temos que ver que em Portugal a televisão, seja de que canal se trata, anda pelas ruas da amargura.
Agora acho que o Pedro poderia ser mais humilde e saber respeitar o trabalho dos outros. Ou também gostaria de lhe dissessem que faz mal o seu serviço? E afinal o Pedro também é ou não Funcionário Público?
Por vezes "é mais fácil ver o ergueiro na vista do outro, do que a trave que nos cega".
Com o devido respeito, obviamente!

Pedro Soares Lourenço disse...

Não considero que a televisão em Portugal ande pelas ruas da amargura. Existem imensos exemplos de qualidade na TV portuguesa (feita por portugueses incluindo nos canais publico) especialmente em diversos nichos de mercado no cabo.
Quanto ao resto, na verdade a humildade não é o meu forte. Paciência.

Pedro Soares Lourenço disse...

Segue infra a tréplica de João Fernando Ramos.

caro Pedro

respeito a sua opinião, mas só lhe respondi por causa da tal "frase".
já percebi que não gosta particularmente do meu trabalho e que na tal "via
verde" vai deixando o que lhe corre na alma , sem cuidar de novo de pensar
primeiro e escrever depois.
não lhe fica bem falar "de empregos na função pública" "qualidade mediana"
etc...por isso nem vou comentar.
Saiba que a RTP e os seus jornalistas ( onde me incluo com orgulho) também
ajudaram diariamente a construir o tal resumo de que fala emitido em
várias televisões, e na RTP N de pleno direito.
fiz várias "estorias" com portugueses e não só para esse programa
alargado, que tinha como suplemento um trabalho de 5 minutos apenas sobre
os Portugueses.
Foi pensada e preparada a ligação destes dois espaços.Aqui na RTP Também
se pensa.
O nosso trabalho de reportagem no dakar tem sérias limitações .
Estamos inseridos numa imensa comitiva e nem sempre conseguimos ter o
"espaço" e o "tempo" para construir todas as reportagens que imaginamos.
Como nota final só lhe deixo mais duas linhas.
A RTP Transmitiu em directo duas especiais do Dakar em Portugal merecendo
comentarios muito positivos de pilotos , publico( 40% dos telespectadores
a ver) e de inumeras televisões que retaransmitiram o nosso sinal.
Foi "radical" ter imagens em directo do interior dos carros, inédita a
cronometragem em vários pontos intermédios etc...
A Organização do Dakar disse publicamente que foi um dos melhores momentos
de televisão de sempre desta mitica prova.
Quem vê televisão avaliou o nosso trabalho e preferiu sempre os resumos
da RTP na RTP N e os directos na RTP 1.
As reportagens emitidas no Jornal da Tarde e no Telejornal foram também
importantes "ancoras" atraindo mais audiências.
Não é que isto me deixe plenamente satisfeito.
~Gostaria de ter feito mais e melhor, o que eu não gosto é de "comer e
calar" sempre que sou insultado....nem que seja na "via verde"...da
blogosfera.
só por isso lhe respondi.

um abraço





Uma última nota para sublinhar a elevação com que João Fernando Ramos se deu ao trabalho de refutar as criticas (nem sempre construtivas...) que lhe tenho apontado.
Nos dias que correm nem sempre é possível encontrar pessoas com tanto fair-play como o João. Parabéns!