quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Estado vai nu

Hoje, pela primeira vez na vida, vi-me na necessidade de correr para uma loja e trazer todo o produto que podia e que penso vir a precisar. Por outras palavras, vi-me na necessidade de correr a uma bomba de gasolina e encher o depósito até mais não caber. É grave? Sim. Mas mais grave ainda é não saber quando é que poderei ter o prazer de repetir esse singelo gesto. Por essa blogosfera fora multiplicam-se os relatos de quem começa a ver-se aflito com a infame paralisação dos camionistas labregos.

Ao contrário do que o nosso Santos Silva pensa, o problema não se coloca no plano das ideias, mas sim no plano da acção. Ao contrário do que o nosso Santos Silva pensa, este ainda não é o “buzinão de Sócrates”.

Não é necessário ser cientista politico ou sequer politólogo, para compreender que estamos perante a maior manifestação em Portugal daquilo que algumas correntes sociológicas têm vindo a apontar como a deterioração do Estado ie o seu atrofiamento e enfraquecimento, a sua incapacidade para resolver problemas, enfim, a sua demissão do papel de garante da paz e segurança.

Agora vemos constitucionalistas (diz que são uma espécie de sábios do regime!) sugerir o “estado de emergência”. Para quê?
O Estado de Direito Democrático e Social, desenhado por esses mesmos “paizinhos”, tem mecanismos mais simples para resolver problemas simples. Numa palavra: força.
Este ainda não é o “buzinão de Sócrates” porque Sócrates na sua louca ânsia de se perpetuar no poder nunca despirá o fato de cobarde e tudo fará para não ter de sujar as mãos.
Este nunca será o “buzinão de Sócrates” porque a malta quer comer, beber e encher o depósito. A malta quer que os camionistas labregos se fodam. Quer sangue, carga policial. Porrada neles!

Pior do que entregar a chefia de governo a um paneleiro é ter entregue a chefia de Governo a um maricas. Mas como já disse pelo menos uma vez, a culpa também é vossa. De quem o lá pôs.

1 comentário:

Nuno Santos Silva disse...

Pedro, as coisas chegaram ao seguinte ponto:
1- os camionistas não podem desmobilizar porque já morreu "um deles" na luta, e porque se recuarem sem ganhar no essencial serão ridicularizados por todos quantos os "enganaram".
2- o governo não pode avançar com "à medida" para os camionistas porque, depois do que se passou com os pescadores (e da maneira como o seu problema não foi resolvido), o governo não pode ser associado à ideia de "é berrar com eles e a coisa resolve-se.
3- o governo não pode avançar com polícia de intervenção sem antes garantir o apoio dos eleitores, e isso ainda vai demorar uns dias: é que ainda há leite e pão nas mercearias.
Feitas as contas, acho mesmo que isto é "o buzinão da ponte" de Sócrates. E ele sabe-o, e é por isso que está à espera do "inverno russo" contra os camionistas: a revolta popular contra eles.