A confiança é um sentimento difícil de sentir em Portugal, sobretudo face às instituições e ao Estado em geral e particularmente ao vizinho do lado. Desde a forma inicial de cumprimento à despedida do fortuito encontro vizinhal existe uma diferença paradoxal, se não mesmo patológica no sentido bipolar. O ano passado, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) realizou um estudo - “World Values Survey” - sobre a confiança nas instituições sociais e políticas e o civismo dos povos e imaginem o lugar de Portugal: quando não ficava em último, nos diversos indicadores desagregados, ficava em penúltimo ou em antepenúltimo.
Podem ser dadas algumas explicações históricas (a fundação da nacionalidade, o domínio filipino, a promiscuidade e inconstância típicas da monarquia portuguesa, a duração do Estado Novo) e, consequentemente políticas, a falta de liberalismo cívico e político, conotado com a responsabilidade efectiva e a liberdade garantida, ou mesmo com o estatismo, a providência, ou, quem sabe, Fátima ou qualquer outra senhora aparecida. O impacto na História e na Economia, sobretudo na produtividade e na competitividade, ou, por outro lado, a influência do passado no presente futuro português, desta falta de confiança nos próprios e nos outros ainda, julgo eu, está por estudar e comprovar.
Todavia, sendo eu um leigo da sociologia (ciência aliás pela qual não morro de amores, sobretudo na retórica) e mediano cidadão, por vezes, a ler o jornal, a ver umas notícias ou a ouvir um noticiário, penso como alguns casos são quase uma prova irrefutável de um impacto negativo de algo que aconteceu outrora neste quarto ibérico.
O problema não é português, como se viu na recente crise das hipotecas sobrevalorizadas sobre bens com valor não correspondente. A principal causa desta crise está na falta de confiança dos que definiam Quem era de Confiança, ou seja, no mundo das finanças designam-se por empresas de 'rating', que avaliam qual o risco de determinada operação financeira. A promiscuidade também aqui vingou, e piorou, quando aquelas faziam o papel duplo e simultâneo de consultoras e avaliadoras de risco da mesma empresa.
A confiança é mais do que um sentimento, é um valor primordial de qualquer relação, seja social ou individual. Por isso a regulação jurídica e a governância são tão aclamadas e declamadas, vivendo o seu momentum paradigmático. Quanto aquela falta, estas soçobram, em abundância.
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