Tibete era um micro-estado teocrático, tal como são o Vaticano e o Irão e, ao contrário deste, não há eleições. Hoje é uma região administrativa especial da China e, desde que o é, terminou a hegemonia religiosa na organização e funcionamento do poder político "tibetan". O Tibete quer ser autónomo para se reger segundo as leis do budismo. A China pretende, em certo sentido, o pluralismo religioso e o multiculturalismo. Redutor? Sim, porque dois ensinamentos contemporâneos resultam da recente situação tibetana:
- um, é o alerta que nos dá quando se defende um mesmo princípio (da polis) em qualquer lugar do planeta. Defender a democracia em todo o mundo, proibir a teocracia a qualquer estado são disparates pós-modernos da actual cultura mediática que hoje é dominante. E, registe-se desde já, quem o escreve é ateu e acérrimo democrata.
- o outro, em consequência do primeiro, é o segundo sinal desse alerta: a religião ou a ditadura (dois sistemas "humanos" que promovem a desigualdade e restringem as liberdades) são males com os quais os respectivos cidadãos e o mundo podem conviver em harmonia (para além dos estados que citei, pode acrescentar-se, no domínio ditatorial, Singapura, Dubai e a Arábia Saudita) desde que reinem sem revoltas populares generalizadas e, nalguns casos, desde que tenham sucesso naquilo que fazem.
Numa palavra, a paz é, cada vez mais, o estado político que melhor promove as relações entre estados e nações. Não é novidade, já Kant o escreveu há mais de dois séculos, mas é bom de lembrar. Porque hoje se deve acrescentar a elas a governância da opinião pública. esta, como todos sabemos, rege-nos hoje como nunca se atreveu.
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