sexta-feira, 17 de junho de 2005

A História repete-se...

...e regressa ciclicamente em períodos de tempo diferenciados por gerações diferentes e sem ligação sucessiva. Por isso a memória dos povos é curta, soçobrando para os costumes e as tradições os restos das lembranças dos antepassados que, como todos os ascendentes, esforçam-se por transmitir ‘conselhos’, ‘valores’ e ‘princípios’.

A História repete-se quando o antigo prevalece sobre o moderno, quando o passado era melhor do que o futuro, quando os homens de ontem é que são sérios e honestos, quando o tempo ido lá longe deixa saudade na vivência presente, quando, enfim, a nostalgia do passado é um paraíso comparada com a desesperança do futuro.

A humanidade já passou por várias histórias, desde a Antiga Grécia, para não ir mais longe, até ao século XXI, formas de organização política outrora condenadas, singraram (como a democracia), concepções filosóficas sobre o Homem e o mundo centraram-se já desde o cosmos, passando por Deus e “terminando” no homem, o centro da política já foi Deus, o Rei, as elites classistas, o povo.

Já foram muitas as ideias que a humanidade regressou e que os tempos fazem com que se repita. Podemos ver isso na Arte, na Cultura, na Política, no Direito (sobretudo criminal), na Filosofia, na importância das ideias, do dinheiro, dos pobres, dos nacionalismos, dos estados, da Europa, da família, do trabalho, etc.

O que eu receio neste Portugal, em arrastão com o mundo, é um dia confrontar-me com a vontade do povo português (e europeu e mundial) em viver neste quarto ibérico em permanente conflito contra os imigrantes, contra os socialmente marginalizados, contra os políticos, numa palavra contra o humanismo. Quando isto acontecer, não duvido que estamos a regressar a tempos obscuros, a raciocínios primários, a linguagens opressivas, a processos acríticos de argumentação, a uma espécie de cultura espúria dos hábitos humanos.

A maioria pressente ou preconiza tal cenário como possível, mas ninguém sabe como evitá-los. Eu não sei como parar este processo que em várias notícias, posições e medidas quase todos os dias verifico nos diversos “órgãos sociais” ser quase um processo imparável. E não é dizer, pois tal é pura hipocrisia – mesmo para os mais pobres - que vivemos uma vida muito má ou que os tempos actuais, a um nível geral, são dos piores por que já passámos. Afinal de contas, Portugal está no top 30 dos países mais ricos do mundo.

Ainda que não sirva de justificação para qualquer exultação, e muito menos para a inacção - bem pelo contrário -, podemos procurar ser todos bem melhores, por dentro e por fora, para nós e para os outros, honrando a ideia aristotélica que o sentido da vida repercute-se desde os antepassados aos respectivos descendentes, ainda que não vivos. O melhor, aqui, tem o sentido de progredir em frente, para o futuro, munidos com a melhor e garantística sabedoria e experiência dos antigos, só e apenas. E que nada mais, no que respeita à concepção do homem na sociedade, venha do passado.

NCR

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