quinta-feira, 7 de abril de 2005

Regresso de outros dias e noites

Os dias amanheciam cedo, ainda húmidos das noitadas que S. Pedro avulsamente permitia. O sol vencia o reino de Juno, a rainha dos céus, e nele se empoleirava para que as primeiras luzes saíssem da exigente natureza da sua hibernação. Os primeiros visitantes raiados eram os nativos tropicais com sustida tolerância da invasão impensada dos jovens inconscientes das regras apócrifas do saudável adormecer e do cedo erguer.

Os primeiros bons-dias tocavam-se nos ouvidos amantes, residentes em almas de iluminação crescente, descomprimidas e ansiosas de novos sons e saberes. Os segundos trocavam-se normalmente em castelhano cuja pronúncia se conjugava como uma onda curta e cortante, própria dos mares que banham aquelas paragens sem parar.

Depois do dia posto, o corpo alimentava-se de especiais rotinas nutritivas, ou nem tanto, alheio à escassez tradicional do povo remediado e generoso, de reconhecidas raízes irmãs dos nossos antepassados.

Os dias contavam-se ao sabor das pequenas notas de felicidade mútua, entre quem queria e quem pedia, entre quem podia e quem valia, como se a comunhão do espaço contratante assentasse numa regata de ida e volta, como se a partilha de um bem se baseasse num regateado diálogo companheiro e presumido. Tal como uma moeda, os dias eram feitos de duas metades, duas faces, dois toques: um para a cara, outro para a coroa. Deste gesto se faziam as trocas de prazeres e a virtude dos presentes; temporários para uns, inesquecíveis para outros.

Sob vigilância constante - marítima de um lado, humana do outro -, os dias contemplavam-se irrespeitosamente em todas as posições, numa perfeita postura de contentamento e ventura, ora erguidas sobre limalhas de terra que o mar teima, eternamente, banhar, ora mergulhadas em actividades de pura incursão cultural e natural, mormente copadas em cristalino estado líquido.

Como em outra terra tropical, o dia adormecia cedo e devolvia à noite o testemunho oculto ao olho humano, mas revelador às miragens da alma acondicionada em sua habitación e transmutada para vestes prevenidas e odorosas, inebriantemente odorosas, como demandam os focos nocturnos iluminados, continuamente espertos para os mal-aventurados. Para estes, a noite tanto dançava, quanto descansava, ao sabor da dinâmica musical ébria e fluida.

A noite teimava em entorpecer, mas o amor acontecia antes do adormecer. Era a união harmoniosa da Natureza feita pelo Homem. Só ele podia estar presente naqueles dois mundos. A sua cara revelava a sua coroa.

NCR

4 comentários:

Anónimo disse...

Hummmmmmm...cheira-me que tiveste umas ricas férias, eh eh eh. Bem-vindo de volta. Bjokas Tânia

Anónimo disse...

Que inveja... :)

Anónimo disse...

que paraíso é esse???!! Ainda bem que gostaste :) beijinhos.

Anónimo disse...

Bem vindo de volta...