segunda-feira, 18 de abril de 2005

Memória gastronómica (II)

Da estada em Itália ficou também a memória visual, de pratos decorados com amor, o olfacto de uma salada temperada com basilico fresco, o som da rolha que brota de uma garrafa de tinto maduro de Emilia Romana, ou de um Chianti assim-assim. E finalmente, todo o contraste de sentidos provocados pelo contacto destes alimentos na nossa boca.
Assim, haverá memória mais completa do que a memória gastronomia?
Tudo isto porque não esqueço um restaurante por onde passei nessa fantástica Ravenna.



CA' DE' VEM, é como se escreve em dialecto Romanês, casa de vinho.
Como podemos ver supra aquele espaço foi em tempos um armazém de vinho. Não uma cave mas sim um armazém de vinho, onde os habitantes da velha Ravenna, terra que já foi capital de um Império em ruínas, se abasteciam do precioso e secular néctar elaborado nas suaves colinas banhadas pelo sol mediterranico da Emilia Romagna.
Hoje CA' DE' VEM, é um restaurante enoteca, onde os locais se confundem com os poucos turistas que aportam a uma cidade calma, limpa, brilhante e que esconde um pouco do seu glorioso passado, edificado com a memória bizantina e românica, de quando a Europa não era nada do que hoje conhecemos mas sim um espaço enorme, liquido e azul transparente chamado “mare nostruum”....



No CA' DE' VEM tivemos a nossa melhor refeição em Italia. Um jantar com saladas carinhosamente confeccionadas e com sabores novos. Basilico, o que é isso? Em Portugal traduzem para manjerico. Será? Massas, como só os italianos sabem fazer, e umas costeletas de “agnnelo”, que é como lá naquela terra chamam ao borrego. Agnnelo e não Agnneli, o que dava sempre uns trocadilhos giros com a família do Império Fiat.
Fica também a memória gustativa de um belo tinto romanesco, afinal estávamos numa enoteca, de um ambiente descontraído mas com classe e de uma tentativa de conversa sobre Lisboa com os locais da mesa do lado. Oh Lisbonna dizia a Italiana “piu bela”..., mas nunca cá tinha vindo, não gostava de aviões..., disse lhe para vir a pé como a fizeram os Portugueses, embora em sentido contrário, já lá vão quinhentos anos...


“Disso é exemplo a ostentatória embaixada enviada por D. Manuel I ao Papa Leão X, em 1514, chefiada por Tristão da Cunha. Deixou boquiaberta a capital da cristandade perante a grandeza esplendorosa de tal séquito. Entre os sumptuosos e exóticos presentes, desfilaram pelas ruas de Roma as primícias da navegação da Índia: imponentes cavalos persas, carregados de riquezas; feras amansadas; homens orientais com vestes ornadas a ouro e pedras preciosas; e até um elefante branco que, carregando o rico cofre pontifical, borrifou os espectadores e o próprio Papa com água perfumada! Impressionado e reconhecido por tão sumptuosa oferta, Giovanni de Medicis reafirma a Portugal o monopólio de África e do Oriente, entre outros relevantes privilégios políticos e espirituais.”

Um dia que passem em Ravenna, não esqueçam este nome: CA' DE' VEM (link).



PSL

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