quarta-feira, 12 de abril de 2006

Pensamentos ociosos (IV)

Ao considerarmos, com Aristóteles, Ulpiano e São Tomas de Aquino (e
tantos, tantos outros…) que justiça é uma "constants et prepetua
voluntas ius suum cuique tribuendi" - constante e perpetua vontade de
dar a cada um aquilo que é seu, vários problemas interessantes e
colocam.
De entre eles, por ventura o mais paradoxalmente tenebroso versa do
seguinte modo: Sendo que "o seu" do sujeito dele é, então dando lhe
esse seu, em bom rigor nada se lhe dá: Como tal, seremos obrigados a
concluir, tal como escreve Delfim Santos, que neste sentido a justiça
se afirma como um nada. Embora seja um nada de que tudo dependa. É um
nada que tudo fundamenta.
Hoje é seguro afirmar, como o fez Fernando Pessoa, que o "mito é o
nada que é tudo".
Não podemos assim deixar de concluir que a justiça pelo menos desta
forma - classicamente - entendida de um mito não passa.
Alias, como escreve Delfim Santos: "[A justiça] procura-se porque não
existe, e se existe não se manifesta como justiça
".

PSL

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