segunda-feira, 3 de abril de 2006

ESPUMAS XXV

O ser humano possui a capacidade de amar mais do que uma vez sucessivas pessoas, mas não antes de deixar de amar a última pessoa pela última vez. Não significa isto que o amor só se extinga com outro. Não há é novo amor, se o último ainda existe. Umas vezes, o amor extingue-se e pronto, está morto. Se foi bom, pensar nessa pessoa é como pensar numas férias, foram boas enquanto duraram. Se foi mau, deixa-se de pensar nela sequer, a não ser pelos piores motivos. Outra coisa é dizer-se que já não se ama, quando ainda se ama. Neste caso, o processo vai ser mais difícil e doloroso. Mais do que aquele que reconhece que ama o outro que não o ama. Porquê, se ambos sofrem à sua maneira? Porque naquele que reconhece, o sentimento desvanece-se saudavelmente, com o tempo. O que não reconhece enfrenta uma luta constante, contra si, obrigando-se a lembrar desse sentimento rejeitado. O sentimento pode nunca desaparecer. Fica latente. Neste tipo de comportamento, por muitas pessoas que passem, por muito que se casem ou que se separem, serão sempre pessoas acossadas, fugidas do passado. Os acontecimentos da vida, a final, não ganham aos sentimentos de quem os vive. Pode combater-se durante anos, até uma vida quase inteira, todavia, a batalha do coração é uma batalha donde saímos sempre perdedores. Contra esta evidência, não há pessoa que nos compense, não há casa que nos abrigue. Numa palavra, não há destino que nos valha.
A felicidade de tudo isto é que nós controlamos o destino de tudo aquilo que depende de nós e assim podemos fazer e sentir outras mil coisas na nossa vida, disfarçar sem querermos saber que o fazemos e ordenar as nossas prioridades e escolher os nossos parceiros. As escolhas da vida parecem-se muito com a nossa imagem, num restaurante, perante um menu. Nem sempre a escolha recai sobre o que verdadeiramente queremos. Temos que pensar na nossa saúde, no que vamos fazer a seguir, onde iremos estar e em que condições. Escolher é uma vontade. Por isso, querer é poder não querer, mas não se escolhe quem se ama. Não nos iludamos com o menu da vida, apesar de podermos tratar as pessoas a la carte. Porque, repito, nós escolhemos o nosso destino, nós escolhemos a pessoa com quem queremos estar, e para isso não precisamos de amá-la. Não há escolhas de amor, assim como à força ninguém ama. Ou se ama, ou não se ama. E tudo porque sim. Na lei do coração não há razão. Saber ler e viver de acordo com o que transportamos no coração é um grande e crescente desafio para todos nós.
Os nossos valores, e a idade, serão nossos aliados na construção de um melhor fim para as nossas vidas.

NCR

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