segunda-feira, 17 de abril de 2006

ESPUMAS XXVI

«Ter medo é uma coisa, dizer não é outra. O medo não nos impede de avançar, o não é a decisão de parar.
Não se pode ter medo de amar e depois não acreditar nele para sempre. Isto é uma contradição em si mesmo. Porque quem não acredita numa relação amorosa duradoura, é precisamente aquele que não deve ter medo de amar, alguém para quem a vida é uma vasta terra de pinga-amores. E, inclusivamente, deveria apaixonar-se com mais facilidade, estando, por isso, mais aberto a essa grande aventura que é o amor.
Nas aventuras o medo é essencial, senão não é aventura. Ele é a fonte do prazer, é o que nos faz avançar e desfrutar dessa inebriante viagem dos sentidos. Aqueles que têm medo, raramente se aventuram, logo, não admira a imensa vontade de desejo de liberdade, ainda que ilusória, e o frenético desamarrar das grilhetas onde cai a base das suas vidas. Andarão sempre à deriva e à procura de algo que tudo fazem para não saber o que é. A aventura, no amor, é uma coisa séria, não tem é que ser para sempre. Aliás, só será aventura quando se luta por um amor para sempre. A busca é solitária, interior e Inspirada, nele ou nela, sempre num grande amor. O medo de amar não nos vale, se preenchemos a nossa vida com um conjunto de alguéns, um conjunto de ninguéns para o nosso coração. É duro, mas é o caminho. Até porque a maior solidão é aquela que se sente quando acompanhado.
Nesta busca, a grande questão é esta: alguém aguenta uma vida inteira, nem por um dia, mesmo no fim dos seus dias, jazido algures numa inofensiva cama, sem nunca poder dizer que - contra tudo e contra todos, acima de fundos e mundos -, despediu-se do seu velho corpo, da limitada alma, da anã rotina, e abraçou o que sempre quis e por quem eternamente esperou? Da resposta depende a procura. Da procura constrói-se o passado, o lugar para onde estamos habituados a dirigir as nossas perguntas. Alguém costuma fazer perguntas para o futuro? Claro que não. As perguntas para o futuro vão sempre em forma de desejo, não são verdadeiras questões. Então, perguntemos: quem pode dizer que sofre mais aquele que nunca conseguirá dizer, tranquilamente, que tudo fez para ser feliz pelo menos uma vez?»

NCR

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