quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

"A civilização é um querer humano"

Não é apenas aqui no ARCADIA (ver aqui o texto de ontem de NCR) que se discute se o episódio dos cartoons é mais uma acha para a fogueira do choque de civilizações, entendido como uma questão de ruptura entre culturas na linha de Huntington. Em muitos outros blogues se tem discutido o que é que enfim está em causa com tanta violência gerada em torno de uns rabiscos. Leia-se, por exemplo:
Paulo Gorjão, aqui e aqui.
Vasco Pulido Valente, aqui.
Constança Cunha e Sá, aqui.
Henrique Raposo, aqui.
Bruno Cardoso Reis, aqui.
Luis Marvão, aqui.
Vale a pena recuar mais um pouco para lá de Samuel P. Huntington e do seu Choque de Civilizações.
As palavras que dão luz a este post são do clássico de Lucien Fevre "A Europa - Génese de uma Civilização".
É muito curiosa a forma que o historiador Francês encontra para explicar essa traição que o Homem fez na ilha do Magrebe.
Fevre explica a deserção do Norte de África, profundamente Romanizado e Cristianizado, da então Civilização Mediterrânica, pelo incremento do camelo como meio de transporte. O Camelo, que apenas se desenvolve no sec. III vem possibilitar transpor o mar de areia do Saara. Outrora intransponível, o Homem encontra um combustível para rotas mais seguras que não as da pirataria da decadência marítima mediterrânica. Estas, outrora fáceis de transpor, são substituídas no sec. IV por esse novo veiculo que cola o Norte de África ao bloco Africano separando-o radicalmente da Europa.

Qual a lição que daqui aproveita aos nossos dias. O camelo de hoje chama-se interesses económicos plasmados em petróleo e gás natural. Combustíveis de que a nossa civilização precisa como antes a civilização mediterrânica precisava de escravos para dar vida aos remos dos seus barcos. Veja-se o caso do Irão. Por momentos, há poucas décadas, esteve tão próximo do lado de cá "das civilizações". Veja-se o percurso que a antiga Persia tem feito nas últimas três décadas.
Confundir estes interesses com a religião ou outras questões culturais é uma pura falácia. Hoje os radicalismos religiosos estão para os homens como o fio de nylon para as marionetas.
Concordo que também esteja em causa um choque ideológico e politico ("Até prova em contrário, há um conflito de ideologias: o islamismo político contra o ocidente liberal", escreve Henrique Rapouso), mas indissociável de um choque pelo controlo das matérias primas fundamentais.
Tal como ensina Fevre o que se vive hoje foi o que sempre se viveu: "O homem, mais uma vez, sempre o homem; o homem, chave de todos os problemas da historia; o homem, chave de todos os problemas da civilização".

PSL

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