Caché – Nada a Esconder, ***
Há dias que não há dias fáceis.
Resta o cinema, nem que seja porque temos uma manhã livre para uma surfada mas as condições teimam em estar mais do que desagradáveis, impossíveis. Logo, a solução? Cinema à meia noite.
Se é inquietude que procuramos, por estes dias não precisamos de procurar muito. Basta ir ao King ver Caché – Nada a Esconder.
Quando falo de Michael Haneke, austríaco nascido em Berlim há mais de sessenta anos, mais do que suspeito, sinto me cúmplice. E a culpa é do próprio Haneke.
Como tantos outros conheci Haneke em Funny Games – Brincadeiras Perigosas. Um prodígio cinematográfico, onde o belo Salzkamergut contrasta em carne viva com o medo.
Não. Não estou a falar de filmes de terror “da loja dos trezentos”, mas de cinema de primeira água.
Aqui chegados, já deve o leitor ter percebido o porquê de tanta lateralidade.
Exacto.
“Nada a Esconder” – tal como João Lopes também acho esta “tradução” para o Português no mínimo ridícula - transporta-nos lá para dentro. Para onde o espectador deve estar. Arrisco-me a dizer que na cinematografia contemporânea ninguém como Haneke consegue tornar-nos tão cúmplices do que se passa na tela. Desta vez, em Nada a Esconder somos duplamente cúmplices.
Somos cúmplices porque a forma como Haneke filma aquela família não nos dá margem para não nos sentirmos (mais!) uns intrusos - Nesse sentido parece-me que estas fotos falam por si.
Somos cúmplices, porque mais uma vez – como em Funny Games e a Pianista – a tudo assistimos candidamente incomodados, mas também acomodados.
Intrigante mas prodigioso. Único mas sublime. Este filme, para alem de tudo o mais, tem duas ou três sequências inesquecíveis. À mesa – sempre filmada na perfeição – mas também o suicídio tão inesperado quanto incomodativo e perturbante.
E os miúdos? Qual, afinal o seu papel em tudo aquilo?
Não é fácil o cinema de Haneke.
Pois não! Mas quem gosta de coisas fáceis?
PSL
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