quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Senhor da Nuance

Nos próximos dias, apesar de já ter começado, vamos assistir a uma intensa jorrada de acusações, baixezas políticas, processos de más intenções, colagens de mau gosto, etc, sobretudo da candidatura de Soares, e deste, a Cavaco Silva. Já começam a delinear-se as planificações de campanha.

Mário Soares já disse que as gaffes fazem parte dele, «é normal e até tem piada» (ou seja, qualquer gaffe soarista é justificadora de culpa ou ilicitude políticas, que é o mesmo que dizer: serei irresponsável por alguns dizeres). E mais, repete (e notem a nuance) que é um político e tem orgulho de o ser; o que não repete é o adjectivo (neste caso) 'profissional'. Porquê? Porque Cavaco não disse que não era político, ele assume essa categoria, e sempre a assumiu. Ele disse sim, que não era «político profissional» e, até com má intenção parcial, se reconhece que não é. Político profissional é aquele que tem como profissão a política, isto é, vive em termos de actividade e de remuneração, da política. Ora, todos sabemos que dos 5 candidatos actuais só Cavaco Silva não é um político profissional, sucedendo-lhe, numa lista decrescente de 'aprofissionalismo político' o Francisco Louçã que considero ser um semi-profissional. Isto parece evidente e com muita lógica e bom-senso, mas não sejamos ingénuos: uma coisa é o discurso político, outra é dizer a verdade de forma clara e unívoca. E sem segundas intenções, naturalmente.

Quanto às pensões de Cavaco Silva, a questão foi levantada (com a esperteza suficiente para os media se atirarem a ela) sub-repticiamente de forma deplorável pelo ex-presidente da República. Foi uma atitude negativa, mesquinha e demagógica. E pode ser virada contra si, pois basta saber a resposta à pergunta Qual deles é o mais rico?, para sabermos onde parará esta bala. Ademais, é um mau exemplo para a democracia, ainda por cima vindo do pai da democracia portuguesa.

Há pessoas que não se contentam em ter um nobre lugar na história pelas vitórias que contribuiu alcançar. Mas por outro lado, é bom que estes grandes Senhores da História também percam as eleições. Dá um sinal positivo, ainda que aparente - de humildade e de combate políticos - aos jovens adultos que estão fora e dentro da política.

NCR

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