domingo, 30 de outubro de 2005
ESPUMAS XVIII
Há objectos sociais de fuga para os nossos objectivos, paradoxalmente, essenciais para nós os cumprirmos, e deles saímos, voltando ao ponto zero, antes de partir, com a satisfação de uma chegada, muitas vezes sentida surpreendidamente como uma resposta vitoriosa…
- O que queremos fazer da vida, desta pequena, curta, valorada e eminente vida? Qual é a nossa estratégia para ela? Será que traçam alguma? Alguém desenha uma estratégia para a função vital? As empresas, fazem-na, as associações, os serviços, os partidos, os governos, as organizações concebem uma, e tu? Já pensaste nisto? Afinal, o que queres ser, fazer ou ter na vida? Achas importante possuir uma estratégia?
- Bolas, estás a deixar-me preocupado!
- Ah, isso é mau sinal. Se estás preocupado é porque não tens estratégia.
- Sim, é verdade, mas vou vivendo, sou feliz assim. Sou médico, tenha família e amigos que adoro, gosto do que faço, tenho mais ou menos tudo o que quis, falta-me coisas por realizar, mas só com o tempo poderei atingi-las. Quero ter filhos, casar-me.
- Talvez sejas feliz assim, mas a pergunta é se achas que devemos ter uma estratégia para a nossa vida? E casar e ter filhos, é estratégia? Será que é estratégia uma empresa prosseguir os lucros? Ou a um partido político ganhar eleições? Ou a um governo desejar o bem para o seu povo? Isso não é algo de inerente à essência da entidade?
- É um bom princípio…
- Sim, sem dúvida, concordo com isso… mas satisfaz-me pouco.
- Se queres saber, também acho essa postura um bom princípio. E confesso que nunca tinha pensado a minha vida nesses termos de planeamento.
- De vez em quando, pensar nesta questão é uma angústia para mim. Gostava de saber qual é o melhor princípio, viver cumprindo uma determinada estratégia, devidamente actualizada, ou viver ao sabor da nossa permanente e inconstante vontade.
- Pensas bem, mas hoje é Domingo, que tal irmos beber um copo para começar?
- Ora aí está um belo instrumento estratégico!
- Sem liquidez, não há bons resultados!
…e quando chegamos ao ponto zero da introspecção, sentimo-nos que não estamos sós no mundo.
NCR
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