terça-feira, 18 de outubro de 2005

Ainda o sentido e o valor...

Já há uns dias que tinha deixado aqui (link) a seguinte pergunta: Qual o sentido e o valor de (e para) procurar o sentido e o valor do ser e de todas as outras coisas?

Entretanto fiz a pergunta (aparentemente) na sede própria e a resposta foi vaga, esguia, escorregadia, académica. Vazia.
Tudo aquilo que não o é o comentário nesse post deixado pelo nosso amigo Filipe Paixão, que pela sua oportunidade e sagacidade aqui e agora se eleva à condição de post

Bem, a pergunta é daquelas sem resposta. Bem, pelo menos sem uma resposta com que todos possamos concordar. Pensando bem, tirando aos raciocínios puros, haverá respostas universais?
Certamente que não. Quando nos interrogamos nunca estamos à espera de ficar a saber a resposta, mas sim na procura encontrar novas perguntas.
Pode-se dizer que a vida é uma sucessão de perguntas para as quais a única resposta é a morte.
Este tipo de abordagem, pseudo filosófica, está fora de moda, num mundo prático, onde se apenas busca a satisfação do imediato, frequentemente caímos no facilitismo de não nos preocuparmos com “essas coisas” que são relegadas para uma forma de pensar “de alguém que anda na lua” ou é “esotérico”.
O homem fez um grande caminho desde o dia em que teve consciência de si próprio, “do ser” e do mundo, “as outras coisas”. Facilmente nos esquecemos que o mundo não existe. É uma abstracção criada pelo homem, uma vez que as coisas que existem, existem por si só. Para serem um conjunto, ou seja, para haver duas coisas, três, milhões de coisas (o mundo), tem de existir um homem que as agrupe na sua mente e com elas forme assim um conjunto que apenas existe na sua cabeça, uma vez que as coisas facticamente o são de forma isolada (uma pedra e outra pedra, só são duas, um conjunto, se alguém assim as associar).
Pois é, pensado bem, afinal, lá no fundo, hoje em dia somos todos “esotéricos”, porque nunca se falou tanto do mundo como na actualidade.
Pensar no ser e nas coisas é o mesmo que pensar no seu valor. Valor não será o termo mais correcto, talvez sentido, porque o ser é! E o mundo é aquilo que o ser acha que ele é.....
Assim e partindo da premissa que o ser e o mundo (as coisas) não têm valor (entenda-se avaloráveis) há que tentar encontrar o valor, o beneficio, a mais valia que poderá haver em procurar o seu sentido.
É importante fazer bem a pergunta, porque se a resposta que se procura for daquelas de que se precisa para resolver algum problema concreto, será uma má pergunta, já que como anteriormente afirmado, a resposta encontrada serão mais perguntas....
Perguntar para ter mais perguntas, porquê? Pergunto eu?
Parece um exercício de inutilidade com o único objectivo de divertir ou irritar alguém.
Não, se pensarmos bem, a consciência humana é uma sucessão de perguntas. Ser humano é interrogar a razão do ser, da vida, dos outros, do mundo, enfim de tudo. Um bebé sem interrogações não aprende, não cresce, um homem sem perguntas não vive.
Facilmente se poderá concordar com o afirmado, que é necessário perguntar, uma vez que homem fez “avançar” o mundo através da sua imensa curiosidade, “instinto nato” com que criou a ciência, a técnica, a arte o direito, a política e todas as coisas que hoje há e supostamente nos fazem muita falta. Com isto é fácil concordar e ao mesmo tempo discordar da necessidade de se perguntar acerca do valor da interrogação, acerca do sentido do ser e das coisas...
Bem se não vale a pena perguntar isso, valerá a pena perguntar o resto?! Pergunto eu?
Obviamente que não, porquê construir um carro se não se sabe para onde se vai com ele. E é assim que nós vamos neste inicio de milénio, num mundo construído de sofisticação e elevado sentido de estética em que ninguém sabe muito bem para onde se vai, ou melhor em que todos sabemos para onde vamos (o abismo) mas que ninguém quer saber, ou seja, acha que não vale o esforço de fazer a interrogação.
O homem vai cego, cego de futuro e de soluções, porque se deixou de interrogar acerca de si e da sua criação o mundo!


Posto isto não resisto a deixar ao Felipe uma pequena grande (enorme!) provocação. Então.., qual é o destino? E já agora qual o caminho para lá chegar?

PSL

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