Salazar dizia que a liberdade e a autoridade eram conceitos incompatíveis. E aqui reside um ponto crucial e inicial para a discussão da formação e renovação da Direita, no sentido liberal. Aquela incompatibilidade é um dos pecados originais da direita portuguesa, que já vem de trás, antes mesmo da revolução liberal (portuense) de 1820. E o que foi discutido nas “Noites à Direita” no Café Nicola não conseguiu superar essa oposição. Em verdade, também não era para isso que estas Noites existem. Agora, parece-me fundamental, para a Direita se renovar ou a nova Direita fundar, estabelecer um conjunto de princípios e quadros de acção catalisador de força e de ideal necessários para a Direita Liberal singrar, quer no plano ideológico, quer no plano político.
As Noites à Direita que assisti com tolerante paciência, contrastando com a audiência bem posta e postante que a elas acorreu, foram decepcionantes. Não me arrependi de ter lá ido, mas confirmei aquilo que já suspeitava: quando se vai discutir a direita, discute-se mais a esquerda, quando se juntam pessoas da suposta direita liberal, fala-se essencialmente de liberalismo, e a maior parte das pessoas fica na mesma, inclusive leitores da matéria. Outra suspeição confirmada foi a incapacidade das pessoas que simpatizam e aderem a esta Direita Liberal de definir a tópica comum de pilares teóricos e princípios estruturantes deste “novo” élan direitista. E esta tarefa é deveras complicada, pois têm que se demarcar da Direita, da Esquerda, da Esquerda Liberal, do designado Liberalismo europeu e, sobretudo este, do 'Centro'. Como se pode verificar, a missão é quase impossível. Sem exageros, talvez esteja mais perto da quase improbabilidade.
Assim, numa palavra, estas “Noites à Direita” venceram, mas não convenceram. E quanto à Nova Direita (quer queiram quer não queiram, é nova pelo menos na sua dinâmica e vontade de a reformar ou refundar), para mim, não colou. Restou o convívio, valor fundamental para a manutenção da liberdade.
NCR
1 comentário:
Infelizmente o Nuno tem razão quando escreve que nas cabeças das "Noites de Direita" vai uma enorme confusão e um grave problema de demarcação politica e ideologica. Infelizmente o Nuno tem razão quando deixa entender que por vezes mais do que a direita se discutiu a esquerda. Infelizmente o Nuno tem razão quando fala na ausência de um quadro de princípios que devia ocupar um espaço que fica no vazio.
Infelizmente o Nuno parece não querer dar tempo ao tempo…, afinal foi apenas o primeiro de um ciclo de encontros, que sinceramente gostaria de ver caminhar. Também eu não gostei de tudo o que vi e ouvi. Mas, caramba!!! Pelo menos, devemos dar tempo ao tempo.
Passe o exagero "in dubio pro reo". Ou não?
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