terça-feira, 19 de julho de 2005

ESPUMAS X

Amizade esquimó. Todos temos a nossa amizade esquimó. Um amigo esquimó é um allegro da nossa vida que cresce para além da voz da nossa criação. Um amigo esquimó é um amigo do peito, porque é um amigo do coração. A paciência, a tolerância, o inconformismo não são critérios para a amizade esquimó. A um amigo esquimó podemos chamar-lhe os nomes todos, zangarmo-nos, não ter paciência para as suas manias e os seus defeitos e estar lá, passados horas, dias, semanas a falar das ofensas, da saturação, das manias e dos defeitos de cada um. A amizade esquimó é uma amizade de compromisso, cuja única cláusula é «Estamos um para o outro», pode-se estar menos, pode-se estar mais, mas está-se. Pode haver fuga ou melguice, discussão ou meiguice, mas a saudade não deixa nunca de ser filha da separação. Um amigo esquimó é um amigo da vida, para a vida e pela vida. Pela nossa vida. Até na ausência, pois falamos dele quando não estamos com ele, perguntamos por ele a quem sabe responder, procuramos por ele quando não está recente ou presente, nunca o esquecemos mesmo em memória. Uma amizade esquimó é o que todos gostavam de ser e de ter. Sentimo-la quando não a desejamos e desejamo-la quando não a sentimos, como acontece nos grandes sentimentos que o ser humano pode construir. Um amigo esquimó é aquilo que gostava de ser para os meus amigos sem falhar em qualquer hora que pensassem em mim como o seu amigo esquimó. Folheamos páginas inteiras da nossa vida em busca deles e eles aparecem quando precisamos deles, por vezes feitos de pele, outras vezes de pêlo, de papel ou de simples pincel. A amizade esquimó está em todos nós sem estar. Ela está em tudo o que nos rodeia, mas nós não a podemos agarrar para sempre, nem todos os dias. Um amigo esquimó está nos momentos. Temos que ser nós a marcá-los para eles terem o seu lugar na nossa vida.

NCR

1 comentário:

Anónimo disse...

Tu já o conseguiste.
Luis