Gosto muito de ler MST e estou me nas tintas para o que alguns dos intelectuais do regime acham ou deixam de achar da sua obra e do seu sucesso. Li quase todos os seus livros. Sul tem relatos comoventes de um viajante viciado e recuperou um género perdido há muito em Portugal – os livros de (ou sobre) viagens. Adorei Equador – tenho a primeira edição, a tal…, dos erros graves – e estive um par de vezes para o reler. Aliás, acompanho há muitos anos as crónicas de MST, primeiro no Público agora (menos) no Expresso, e apenas não o leio n’A Bola pois o escriba torna-se um enorme imbecil quando a conversa mete o esférico pelo meio. Enfim, a perfeição na raça humana não existe e embora todas as nossas mães nos dêem à Luz, alguns degeneram. E ainda por cima ficam estúpidos.
Vamos a Rio das Flores ao qual recentemente tenho dedicado algumas horas da noite.
“ (…) Foi o trunfo da demagogia, da mediocridade, do oportunismo político, do caciquismo de aldeia, da instabilidade politica constante, finalmente e como era inevitável, da ruína económica do país. Como republicano, tenho de confessar amargamente que só tenho uma resposta para a pergunta “O que deu a República a Portugal?” E a resposta é: “Nada.”
Estas palavras que parecem ter sido proferidas hoje são postas por MST na boca de Francisco Menezes, amigo e companheiro de animadas tertúlias politicas de Diogo Ribera Flores, um dos protagonistas de Rio da Flores. E não se referem ao regime actual, mas sim à podridão da Primeira Republica que como todos sabem caiu às mãos do maior português de sempre (pelo menos para quem votou nele naquele concurso televisivo de péssima memoria) e da corja da União Nacional.
Apesar da leitura de Rio das Flores ir larga (e não sendo eu crítico literário) ainda não compreendi ao que MST vem com este novo romance como, aliás, o livro se auto intitula. No meio de varios quadros que se repetem ad nauseum, nomeadamente as cenas bucólicas mas algo monótonas nos campos de Estremoz, MST não prescindindo de fazer os seus juízos de valor (mais a mais dando quase sempre uma no cravo e outra na ferradura) parece ter pretendido fazer qualquer coisa parecida com um ensaio histórico ou politico ou mesmo social (ou quiçá tudo junto), de um período mal explicado da historia portuguesa do século XX – a ascensão e implementação do Estado Novo.
Resulta então do que li até hoje de Rio das Flores, uma leitura agradável, as vezes demasiadamente light (espero que MST nunca leia isto se não serei trucidado), mas que se perde entre o romance e o ensaio. Dirão por certo alguns: é arte senhores, é arte, um estilo novo. Dirão por certo outros: é lixo, senhores, não reciclável. Pois bem…, talvez no meio esteja mesmo a virtude.
O que eu gostava mesmo era que houvessem mais Migueis Sousa Tavares por cá. Certeza, certezinha que Portugal era um espaço melhor e mais livre. Porque a liberdade, mesmo que se torne vicio, será sempre um vicio são e apaixonante.
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