terça-feira, 20 de novembro de 2007

Juan Carlos, Chávez, Soares e Fidel

Há uns anos, julgo que numa cimeira Ibero-Americana, Mário Soares insultou Fidel Castro:
chamou-lhe "dinossauro".
Na altura Soares foi aplaudido, por Castro ser ditador & comunista, pese embora ninguém de bom senso tenha acreditado que o português quisesse mesmo dizer que o cubano era um sáurio: tratava-se de uma metáfora à longevidade - sem eleições - de Castro no poder. ~
Saldou-se assim a situação: um insulto, uma metáfora, um chefe de estado eleito e um não eleito.
Vem isto a propósito dos dois insultos ocorridos na última reunião cimeira Ibero-Americana:
Chávez insultou Aznar, chamando-lhe "fascista". Chávez foi condenado, por Aznar não ser ditador & fascista (estará - espero eu - tão longe do fascismo como Zapatero do comunismo), tendo-se entendido (pelos menos os comentadores) que Chávez não é inteligente o suficiente para usar metáforas, pelo que não se estaria a referir à participação espanhola no golpe de estado de 2002. Porém, julgo que Chávez estaria mesmo a insultar Aznar, e como não se pode insultar ninguém com a realidade, o venezuelano sabe mesmo que Aznar não é fascista.
Saldou-se assim a situação: um insulto, uma metáfora, e dois chefes de estado eleitos.
Logo depois, o rei espanhol, João Carlos, dirigiu as seguintes palavras a Chávez: "por que não te calas?". João Carlos foi aplaudido, por Chávez ser um proto-ditador & comunista. Ora, entre chefes de estado, uma afirmação destas não pode deixar de ser considerado um insulto. Parece-me que aqui o monarca espanhol usou o verbo "calar" com o seu sentido estrito (preservar o silêncio), mas também se poderia encontrar aqui uma metáfora (afinal, João Carlos será pelo menos tão inteligente quanto Soares e Chávez): Chávez calar-se-á quando sair do poder.
Saldou-se assim a situação: um insulto, uma metáfora, um chefe de estado eleito e um não eleito.
Serve tudo isto para dizer que não podemos apreciar situações objectivas consoante gostemos ou não dos respectivos intervenientes: isso não é honesto.
A hombridade aqui está em repudiar todos os insultos entre chefes de estado, e não só aqueles proferidos pelos chefes de estado de que não gostamos.

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