segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um partido positivo (construtivo), por favor! (1.ª parte)

Como é normal acontecer na comunicação política, nenhuma das palavras do título é unívoca ou involuntária, nem transmite autenticamente o que verdadeiramente se lê. Quando digo partido, quero dizer militantes, pois que são eles que "fazem" esta associação privada de fins públicos. Mas, ainda assim, não chega: não são todos os membros partidários que realmente são abrangidos, é a elite que se pretende atingir, visto que, naturalmente, é quem "define" o funcionamento e o rumo do partido, directamente ou indirectamente, pelo seu currículo ou posição partidários assumidos na respectiva organização. É um conjunto de pessoas, poucas, que determinam a percepção pública dos discursos, e dos ideais, representativos do partido. Assim, por antonomásia inversa, é isto que significa "partido" no sobredito título.
Depois de explicada a primeira expressão, passo à segunda: na palavra "positivo", melhor definindo, trata-se de questionar, não sobre uma organização política que defende apenas números e mundos bons e onde todos gostariam de viver, sempre vagos, gastos e universais no discurso é certo, pelo certo nenhum partido discursa o contrário; o que se questiona é, principalmente, a natureza, objecto e finalidade dessas positividade, quer aquela que é dita, quer a que não é feita, por quem tem o poder de a fazer. A apologia de positividade que se pretende marcar é a positividade do falar e agir verdade e transparente na própria vontade que lhes estão prévias, ou seja, mais do que, quando se comunica à opinião pública, dizer a verdade, exige-se actualmente a pré-compreensão de que a vontade e o objecto do comunicar é concebida no âmbito da honestidade, abertura e constância da mensagem. Mais, um partido político positivo também será um partido cujos líderes (ou melhor, "chefes", entre eles há uma grande diferença) apreciem pública e criticamente, a acção e as ideias da oposição, que avaliem e reconheçam o mérito das suas propostas pelo estrito critério do interesse público ou do geral, quando exista, mas sem pudor ou linguagem codificada, sem disfarces ou desvios malabaristas que desvalorizem o próprio elogio eventualmente produzido, atingindo negativamente, por estas vias, a adjectivação do próprio discurso.
Quanto ao "por favor", obviamente é uma ironia. Na verdade, é por dever, dos partidos. Um dever consagrado em lei, cuja previsão de certas obrigações, como a contribuição para a formação cívica e política da sociedade, não passa de letra morta em programas repetidos de "direcções renovadas". Poderão existir alguns moicanos, admito-o, mas não passam disso mesmo, de uma minoria pouco representativa, emersa num agrupamento sistémico, claustrofóbico, interesseiro e virtual (aqui, no seu verdadeiro sentido, como sinónimo de real).
É certo que a democracia de partidos é bem vantajosa do que a de partido único ou de sem partidos. Mas começa a ser e a saber a pouco num mundo comunicacional cada vez menos estratificado ao nível do conhecimento geral dos direitos e deveres de cada um. Neste ponto, direi mesmo que, em seu resultado, a corrosão política por contágio da sociedade civil é cada vez mais evidente. A insatisfação é generalizada, daí que baste haver um motivo maior para a decisiva acção que contribuirá para a mudança de paradigma do modo como se faz política. Obama já deu o mote. E estou convencido, convirja-se ou divirja-se da pessoa e do político, nada será como dantes nas campanhas e programas políticos dos países desenvolvidos ocidentais. Somente um cínico o poderá negar. Todavia, nas democracias representativas, a política começa nos partidos; e a portuguesa, infelizmente, é (quase) exclusivo dos militantes ou "personalidades" da política. Logo, há dois deveres incontornáveis indispensáveis para a reforma da política, e dos partidos, e para qualquer sociedade que se preze: pelo lado dos políticos, a reforma tem de ser assimilada no interior dos partidos; pelo lado dos cidadãos, há que pensar seriamente em integrar um, algum pelo qual nutre maior simpatia ou afinidade ideológica. O mito de que um militante partidário defende o seu partido a todo o custo ou tem de dizer Ámen a todas as suas ideias e políticas é algo que tem de ser desmascarado. Um partido político não é um clube de futebol ou um grupo musical; nestes, qualquer apologia é despida de racionalidade ou de "bem comum" objectivo e sustentado.
(continua)

Sem comentários: