Para os bloquistas, o comunismo/trotskismo é a etapa suprema da democracia, o fim derradeiro e esperançado da universalização da justiça social e da igualdade material, únicas e exclusivas 'utopias reais' da humanidade.
O Bloco, que tem na sua génese partidos e movimentos políticos defensores do estatismo colectivista e combatentes dos dogmas socialistas do politicamente correcto, é hoje, e sempre assim foi, um grupo político deveras defensor do conservadorismo político e social da extrema-esquerda.
Um dos maiores traumas originários do Bloco é a sua concepção de Política como um exercício de distribuição de produtos com o controlo (quase) total dos produtores. Pensam a Política sobretudo como um instrumento de embandeirar ideias em preterição dos resultados e dos actos a médio e longo prazo. A salvaguarda dos estatutos sociais, a defesa desenfreada dos direitos adquiridos a todo o custo, a protecção desmedida dos 'operários' em vez dos operadores, a maniqueísta visão de que quem não está com o Estado está contra ele, confundindo Estado com Administração.
Muitos autores (liberais é certo, refira-se), como Locke, Tocqueville, Constant, Olivier, Von Mises, entre outros, há muito escreveram que o maior perigo para a liberdade é o igualitarismo que, no campo das ideias, traduz-se numa profunda intolerância para o pluralismo político e social (se têm dúvidas, leiam o "1984" de Orwell).
Das utopias da "República", de Platão, e da "Utopia, de Morus, às distopias modernas de "O Leviatã", de Thomas Hobbes, "As viagens de Gulliver", de Swift, "A máquina do Tempo", de Wells, "Nós", de Ievguêni Zamiátin, "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "O Zero e o Infinito", de Arthur Koestler, entre outros o mundo mudou. Mudou e comprovou-se que a fantasia de outrora pode bem ser a realidade da futura aurora.
Friederich Nietzsche, na sua obra "Para além do Bem e do Mal" escreveu «A loucura é um fenómeno raro em indivíduos – em grupos, partidos, povos e eras, é a regra.». A propósito, o mundo do BE é um mundo onde os recursos disponíveis pelo Estado são (quase) ilimitados, sobretudo porque sempre se pode ir buscar mais aos mais ricos, como se neste mundo fosse impossível, ou mesmo improvável, a um pobre coitado a simples operação de deslocar o seu dinheiro de um banco para outro, ou de uma aplicação financeira para outra, ou mesmo de um país para outro.
A lógica do BE é a lógica do "Eles comem tudo", "O centro não existe", da "Revolução", do assumir-se "Contra o sistema"... Para o BE o centro político é a luta social, o campo de batalha, o lugar por excelência da guerra contra "os patrões" e o diabólico insuperado "capitalismo".
No dia 24 de Julho de 2004, perguntava aqui «Porque é que há pessoas do centro-direita e do centro-esquerda a votar no Bloco de Esquerda (BE)?» E respondi (ou tentei responder) assim:
«A minha tese, salvo seja, é a seguinte: as pessoas que se situam no «centrão» e votam no BE fazem-no porque querem que o BE seja oposição (ou seja, que nunca ganhe as eleições).
Bem sei que à primeira vista pode ser contraditória, todavia, como diria Hegel, as palavras são enganadoras. Na verdade, estes votantes do BE não defendem as ideias do BE, muitos até são declaradamente contra, outros, as desconhecem quase no seu todo, contudo, vêem no BE, nomeadamente em Francisco Louçã, um partido opositor, combativo, coerente, sério, competente. Podemos dizer que o BE tem pouca concorrência no mercado da oposição política e parlamentar, Ferro e Carvalhas não têm o carisma e o intervencionismo políticos necessários para fazer frente a Louça e, entre outras razões, o BE cresceu em eleitores. Conjugando a oportunidade e a veemência do BE com a ausência de afirmação de liderança política e comunicacional no resto da esquerda, Francisco Louçã e o BE conseguem fazer uma oposição incisiva, sábia e eficaz ao governo da coligação. Assim, o voto «centrista» no BE é um voto de delegação de poderes de controlo e fiscalização do governo, não é um voto na ideologia ou ideias bloconianas. É, no fundo, um voto passivo e de conforto. Os eleitores do «centrão» votam no BE para não terem que intervir politicamente e para que este continue a fazer aquilo que melhor sabe.
Naturalmente que outras razões podem aventar-se, eu também tenho outras embora ache que são menores ou secundárias, no entanto, acho que esta é a que responde melhor à pergunta que fiz. E note-se que não quero dizer que este tipo de eleitores são a maioria do eleitorado do BE, isso daria azo a outra pergunta e a outras respostas...»
A pergunta mantém-se...assim como aquilo de que é feito o BE. A sobranceria moral e, despudoramente, humana bloquista (porque não dizê-lo: conservadora!) teve o seu auge na 'condenação' de Louçã a Paulo Portas no debate da SIC-Notícias, subtraindo a este direitos por 'negligência de concepção paterna'.
Em nome do contraditório livre, e para um bloqueio de ideias, ler o respectivo Programa.
NCR
3 comentários:
Transcrevi este seu postal neste blog:
http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/
Espero que mo permita, a posteriori!
Obrigado.
"controlo e fiscalização do governo, não é um voto na ideologia ou ideias bloconianas"
É isso mesmo Nuno.
Lbrites
Ideologias à parte (que em termos governativos já quase nada significam) e face às políticas dos últimos anos de favorecimento do compadrio e do nacional porreirismo, acho que faz falta à política portuguesa um "contra peso" com alguma força, quanto mais não seja para efectivamente mudar a actual classe política, já habituada "à dança das cadeiras", do Governo, para os lugares e destaque das empresas e institutos públicos e vice versa. Estou-me nas tintas para os "ideológicos", quero políticos competentes, responsáveis e honestos. NCP
Enviar um comentário