Não basta ler o Le Monde de manhã, o The New York Times à tarde e o The Guardian ou o El Pais à noite. Não basta ouvir musica que nunca ninguém ouviu e que nunca ninguém ouvirá. Não basta ler os clássicos, os gurús da nova economia, os profetas da ciência política e os cultores do direito. Não basta sentar o rabo nas roçadas cadeiras da Cinemateca e do King; comprar bandas sonoras e conhecer de cor todos os dogmas da sétima deste Mundo. Não basta tocar piano e falar francês. Não basta almoçar qualquer coisa leve num colorido restaurante aborrecido e jantar nos lugares da moda. Não basta comprar "all inclusives" para o paraíso da moda; viajar para as capitais europeias em trabalho, ou dar um saltinho a um Parador do pais vizinho. Não basta sequer frequentar as melhores universidades e ter os melhores mestres.
É preciso cortar as amarras, puxar da ancora e soltar as velas. Para que os ventos deste mundo nos levem a conhecer novas paragens, gentes, raças e culturas. E no fim da jornada concluíamos como Eça conclui por interposta pessoa, que esta terra em que moramos é povoada por espectros bafientos, amarelados, tristes e mesquinhos; governados por uma classe política incapaz de desempenhar o papel que lhe foi confiado; apoiada por tecnocratas inúteis e incultos, pequenos e convencidos; sustentada por intelectuais sempre comprometidos.
É preciso cotar as amarras para sabermos enfim, como somos pequenos e como precisamos urgentemente de um banho de humildade.
PSL
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