“Aquele Querido Mês de Agosto”, ****
Devo dizer, desde já, que sou suspeito para falar do novo filme de Miguel Gomes. Por uma simples razão: apesar de não ter nem casa nem "sangue" na região onde se passa a “acção”, é na Beira de “Aquele Querido Mês de Agosto” que tenho memórias fantásticas do fim da adolescência/início da idade adulta. Alguém esquece a(s) primeira(s) viagem(ns) com os amigos em permanente e incessante regabofe de descoberta? Foi por lá, Monte Redondo, Cavaleiros, Nogueira do Cravo - aldeias que podiam ser o epicentro do filme de Miguel Gomes - mas também por Ponte das Três Entradas, Coja, Góis, Arganil que passou parte de uma vida que já não volta mas que me deixou memorias e lições eternas.
É fácil de ver que também eu tive (e quem não teve – tem) “Aquele Querido Mês de Agosto”. O que não tenho (e duvido que alguém mais terá) é a arte de pegar num belo mosaico, estilhaça-lo em mil pedaços e oferece-lo em forma de cinema a quem o quiser apanhar.
Não é fácil descrever (muito menos qualificar) “Aquele Querido Mês de Agosto” enquanto objecto cinematográfico. Miguel Gomes parece partir da ficção para o documental e deste para casa de partida deixando, pelo meio, se envolver pelo cúpido do “filme sobre um filme”, ao deixar a tela ser invadida pela equipa de filmagem.
Não estão a perceber nada? É natural; “Aquele Querido Mês de Agosto” não é apenas um documentário, uma ficção, uma pantomina, um musical, um melodrama. “Aquele Querido Mês de Agosto” é um documento sociológico e antropológico sobre um pedaço do Portugal profundo do início do século XXI. E é divertido e belo.
Fernando Lopes, dizia numa das dez páginas que o Ípsilon do Público da passada sexta feira dedicava a “Aquele Querido Mês de Agosto” que Miguel Gomes "não é cego aos sons nem surdo às imagens". Não sei dizer tanto nem sei apelidar “Aquele Querido Mês de Agosto” de milagre como parece ter feito o Cahiers du Cinema aquando da passagem de “Aquele Querido Mês de Agosto” pela quinzena dos realizadores na última edição de Cannes. Sei apenas que quem filma assim a beleza da Fraga da Pena, como se de um altar natural se tratasse (a luz que vem lá do além e alumia - o apalermado, não apenas no caso do filme – o clássico passeio familiar da região), é cineasta a acompanhar de muito perto.
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