quarta-feira, 10 de outubro de 2012

RIP Público

14 de Fevereiro de 2007, citava (link) Daniel Oliveira e escrevia “um jornal não é um sabonete”. Mais: “o “Público” morreu”. Tinha ficado apenas o “P”.

1 de Novembro de 2009, “um novo começo ou um fim anunciado”, perguntava (link).

5 de Março de 2010, embora cheio de saudades, “duvido que algum dia volte para ti “´Público””, afirmava (link). 

10 de Outubro de 2012, isto (link). 

Este post não é (apenas) sobre o Público. Este post é sobre a blogosfera em geral e o Arcádia em particular. Os blogues são assim, têm memoria. Os blogues não podem morrer, como os jornais.

2 comentários:

Denis Diderot disse...

A memória, felizmente, começa antes de 2007: em tempos de crise (outra e a mesma, afinal...) que determinaram o fim do saudoso Diário de Lisboa, após um ror de perdas financeiras acima do altruísmo compaginável nas mentes de hoje, nasceu o Público!

O novo jornal preencheu um espaço que o DL vagava, o de um jornalismo vivo e sério, continuando (e assegurando os respectivos postos de trabalho) uma boa escola de profissionais reputados.

Mas se as mudanças do mundo originaram então esse fim e início sucessivo (comum em estatística, que não em natureza e espécie, a muitos projectos empresariais, incluindo na área editorial e jornalística) tudo o mais, no essencial, se manteve: a vida é frágil, organizações incluídas.

Face aos resultados financeiros, ou por muito menos prejuízos, muitas empresas fecharam e teriam já fechado, como é forçoso compreender: quem não compreender ponha o seu próprio dinheiro a derreter e fica logo a entender num ápice.

Mas o Público tem persistido, contra ventos e marés, mesmo aos seus próprios trambolhões editoriais e outras maquinações inconcebíveis, como o fanatismo doentio com que o antigo director defendeu ... a invasão do Iraque (!?) ou a autoestrada para Sintra, onde, segundo afirmou, morava (?!) ou a sanha contra o "novo" (!!) acordo ortográfico de 1990 ou a certas perseguições pessoais a que não consegue renunciar e outros "ous" que, sendo específicos do Público, nem sequer destoam de muitos outros periódicos, por sinal bem mais susceptíveis de levas de sectarismos, partidários ou afins.

E se o Público tem resistido quanto ao essencial da sua linha e estilo, com excepções como as referidas, também tem resistido economicamente, como empresa viável - se fosse mais uma pseudofundação provavelmente perderia agora apenas 20 ou 30% de apoios do Estado, um verdadeiro prémio para habilidades jurídicas marteladas nas vulnerabilidades das leis e em muita conivência política. (cont.)

Denis Diderot disse...

(2/2)
Mas sendo uma empresa, tem que se sujeitar às condições de mercado e ajustar a sua estrutura e os seus custos à rentabilidade e receitas que a sua actividade é capaz de gerar. Ao contrário (da maioria) dos blogues, uma empresa jornalística exige avultados investimentos, tem uma conta calada de despesas todos os meses, incluindo os encargos com o pessoal, instalações, equipamentos, licenças, impostos, etc., razões mais do que suficientes para ter que se mexer para não desaparecer, como tantos outros jornais, revistas, meios de comunicação, em Portugal e lá fora.

De estranhar seria a resignação e o desinteresse, com a ruína por óbvia e inevitável consequência.

Fácil é preparar e repetir epitáfios mas mais uma vez é capaz de ainda ser cedo para voltar a anunciar a morte do Público.

Que ninguém queira pagar pelos serviços que o Público (tal como tantos outros jornais, com as vendas em queda livre em todo o mundo) presta, com reconhecida qualidade; que todos se achem no direito (legítimo) de dizer mal, até porque não raro o Público (tal como tantos outros jornais, com critérios de rigor em franca flexibilização em tantos sítios do mundo) se põe a jeito com erros de palmatória, quantas vezes (in)justificados pela pressa e ânsia das audiências; que a apetência pela diversidade de fontes e pluralidade de opiniões vá também claudicando, em Portugal como lá fora, quer por razões de (tentativas cada vez mais conseguidas de) homogeneização informativa, política e até cultural, quer por motivos de acessibilidade, uma vez que a rádio, a TV e a internet facultam depressa e gratuitamente as principais notícias, reservando a jornais como o Público a função de análise, debate, aprofundamento noticioso, crónicas e artigos de opinião, mais raramente investigações inovadoras e de fundo; mas afirmar que o Público já se finou?

Quem afinal é capaz de apoiar a sobrevivência de um órgão de comunicação social válido em vez de se limitar a facilitista bota-abaixo epitafial?

Querem mesmo ficar apenas com os correios da manhã desta vida? mais o que resta da blogosfera? é que o twitter e o facebook é dinheirinho nos bolsos americanos! pouco mais...