quarta-feira, 15 de junho de 2011

Merda cor-de-rosa

Não, não. Apesar do título o poder sugerir, este não é mais um post sobre Sócrates ou o sobre o seu (des)governo. É tão só um post para assinalar mais uma fabulosa crónica de Hugo Gonçalves.

Em regra, o ser humano aprecia aquilo que não consegue fazer. E eu aprecio, muito, a capacidade que o Hugo tem para diariamente, repito, diariamente, preencher um curtíssimo espaço em branco de forma tão, digamos, genial. Hoje não resisto, e roubo ao Hugo e ao i (link) a sua crónica intitulada “Lixo porco”. Brilhante!

Por todo o país há esse lixo cheio de bactérias, despudor e mentira, comercializado em capas de revistas que gritam títulos imundos: "Sónia Brazão morte anunciada. Todos os pormenores do horror para sobreviver." Estas revistas defendem o direito ao jornalismo da emoção (?), como quem acena ao leitor com um acidente de carro na auto-estrada. E se o Cristiano Ronaldo passou, em algum momento da sua vida, nessa estrada, melhor ainda. Faz-se logo uma chamada de capa. Até o novo primeiro-ministro foi embrulhado neste papel colorido e mal cheiroso: "Ele comeu do lixo. Irmão com paralisia." O que estas publicações têm feito com a história da actriz Sónia Brazão, vítima de uma explosão, é tão pulha que causa náuseas. Nestas revistas, além da indecência, mente-se muito, exagera-se e explora-se a tragédia como quem vende farturas. Não se trata apenas da invasão da privacidade, trata-se de fazer da vida dos outros um produto sujo, muitas vezes ficcionado. Lixo, já se sabe, haverá sempre. Mas os responsáveis por estas revistas deviam pagar pelo lixo que produzem (e os jornalistas deviam meter a mão na cabeça, contestar ordens, dizer que não). Em Inglaterra, onde há tanto lixo mediático, quem mente paga bem. O "News of the World" já largou 100 mil libras por publicar fotos não autorizadas de Sienna Miller. Se vamos a um restaurante e a comida está estragada, reclamamos. Se compramos uma camisa e tem defeito, vamos trocar. Devíamos fazer o mesmo com este lixo de papel. Tanta árvore assassinada para produzir apenas, e tão só, merda cor-de-rosa.

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