domingo, 24 de maio de 2009

paleta de palavras LXXIII



Julgo que é a segunda vez que coloco esta música no blogue. Também não será a última, asseguro-vos. Pode ser a última terceira, a última quarta, enfim, o que a saúde e o o mau temperamento permitir, e o mundo exigir... mas não será a última segunda vez. Desta vez foi o mundo, essa massa anónima de teias humanas, seres vivos metafóricos em período de transformação para um mundo aracnídeo. Cada vez mais tecidas e fatais, as redes vão rastreando e apagando as pegadas, de tudo o que passa ou quer passear. Os primeiros hoje, os últimos de outrora. Em devir enrodilhado, todos querem ser primeiros, estar em primeiros, parecer primeiros, com o físico em 1 e a fazer "play" em todos os neo-objectos da pós-modernidade. Não há volta por onde se pode pegar nesta rede enredada na sua própria teia. Estamos todos enrolados nela e, sem se saber, continuamos alegremente a tecê-la, para gáudio público e pessoal das palavras narcisistas da nova bíblia contemporânea - a Internet. E que maravilhosa ferramenta! Embebeda-nos de auto-recriação e de talento, e convencimento de que estamos mais protegidos e seguros e somos únicos e diferentes. E que alguém nos oiça. E é a verdade, já não nos ouvimos apenas a nós próprios. Há sempre mais alguém que sabe das nossas palavras, com prejuízo natural do seu sentido, mas isso pouco importa. O sentido pouco ou nada revela o que o outro quer comunicar, as suas palavras, e assim viciosamente, o círculo se compõe, a teia se vislumbra e a rede se completa. Até que, quando o tempo e a vontade se encontram com a acção, a teia estica, vibra e revira-se, numa tremulada estonteante, ao som de momentos sonoros, iluminados, que duram apenas 6 minutos, mas não nos deixa repetir o mesmo acto duas vezes. Não há vezes iguais. Da primeira à última.

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